sexta-feira, 11 de abril de 2008

Detonautas lança 1º disco após a morte de guitarrista

Em seu primeiro CD sem o guitarrista Rodrigo Netto - morto em assalto em 2006 - e o quarto da carreira, os Detonautas iniciam nova fase. Como na conjunção astrológica, O Retorno de Saturno mostra a banda mais madura.

Se as guitarras pesadas ficaram para trás, surgem canções com letras introspectivas e melancólicas. Não foi fácil: Netto era o letrista ao lado de Tico Santa Cruz e, sem ele, tudo ficou mais triste.

"Fiquei inseguro, mas também foi uma provação", diz Tico. "A gente cresce e é natural que os gostos se refinem. Era impossível não soar assim depois de tudo o que passamos", explicou.

Ele se "exilou" em Trancoso, na Bahia, para compor letras como "Quando penso que encontrei o meu lugar, não me encontro dentro dele/ Um soldado que vive no inferno quando a guerra acaba não consegue descansar?", de Soldado de Chumbo.

"Em algum momento esse disco sairia, talvez tenha sido antecipado pelo que passamos com o Netto", diz o baterista Fábio Brasil. A mudança de estilo, claro, veio seguida de críticas, desde que o disco foi lançado no MySpace. Tico foi acusado de pretensão, de querer ser o próximo Renato Russo. "Legião Urbana influenciou minha geração. Fico honrado com a comparação, admiro muito o Renato. Demorei 30 anos para escrever essas letras", minimiza Tico.

Para ele, o CD é, afinal, uma espécie de "música para acampamento". "Não dá para agradar a todos, mas nossos fãs permanecem. Um nos acusou de fazer música de mulherzinha. É isso: para o cara tocar na rodinha para a mulherzinha dele", brinca.

"Se fizermos um disco pesado, vão dizer que não mudamos. Fazemos uma coisa mais psicodélica nos acusam de não sermos mais os mesmos...", reclama o guitarrista Renato Rocha.

Eterno inconformado, Tico expressa sua angústia no CD, feito para ser ouvido com atenção. "Falo de amor, mas não esse amor romântico. Também falo de política (como em 'Enquanto Houver', que diz Meu amor/ Enquanto isso no Congresso/Eles roubam o país"). Mas digo sem ser panfletário", justifica o músico, em evidência por seus protestos com o grupo Voluntários da Pátria. ¿Meu ativismo social e político e a banda são coisas diferentes, não posso misturar, existe um equilíbrio", conta.

O resto da banda aplaude. "Os 'Voluntários' foram a salvação. Agora o Tico extravasa o inconformismo dele lá. Antes ele começava a falar mal dos políticos nos shows e discursava quase 40 minutos", zoam os companheiros de banda. "Tive que poupar meus amigos¿, brinca Tico, que também é articulista do jornal O DIA, onde escreve às segundas-feiras. ¿Me deram um espaço para eu ser polêmico à vontade", ri.

Disco saiu primeiro na Internet
Assim como os CDs anteriores, Retorno de Saturno foi gravado na Toca do Bandido e produzido por Tomas Magno e Fernando Magalhães, do Barão Vermelho, e também marca a estréia da banda na gravadora Sony/BMG.

"A antiga gravadora (Warner) queria que gravássemos um acústico, mas não acho que seja o momento ainda. Eles não acreditaram na gente", lamenta Tico, que não teve medo de disponibilizar o novo trabalho no site MySpace.

"O fã vai ouvir o CD na Internet e, se gostar mesmo, comprar na loja também", acredita Renato. "A Internet só veio para fazer as pessoas pensarem. Agora ou as gravadoras vão ter que diminuir os preços dos CDs ou pensar em novas formas de agradar ao público. Não estamos mais nas mãos das grandes empresas", diz Tico.

O Dia

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