quarta-feira, 10 de junho de 2009

'A Mulher Invisível' faz 229 mil espectadores




Carlos Helí de Almeida

Tudo bem que foi um pouco de covardia colocar uma franquia milionária defendida por um exército de robôs contra uma comédia estrelada por uma sedutora visão masculina do que seria a companheira ideal. Ainda assim, a produção brasileira A Mulher Invisível fez bonito em seu primeiro fim de semana em cartaz contra O Exterminador do Futuro: a Salvação, quarto capítulo da saga criada por James Cameron 25 anos atrás.

Lançado em 200 salas, o filme dirigido por Cláudio Torres e protagonizado por Selton Mello e Luana Piovani atraiu cerca de 229 mil espectadores nos três primeiros dias em cartaz, perfazendo uma média de mil pessoas por sala. Espalhada por 486 cinemas, a milionária produção americana dirigida por McG e estrelada por Christian Bale vendeu cerca de 405 mil ingressos no mesmo período, ou mais ou menos 833 pagantes por sala.

"Podemos dizer que A Mulher Invisível teve uma performance muito boa, enfrentou muito bem seus maiores adversários no primeiro fim de semana, O Exterminador e o jogo entre o Sport e o Flamengo pelo Campeonato Brasileiro, no domingo - avalia Paulo Sérgio de Almeida, do site Filme B, que concentra dados sobre o mercado cinematográfico. "Acredito que o filme terá uma segunda semana igual ou melhor ainda, por causa do boca a boca e do feriado prolongado de Corpus Christi, na quinta-feira."

Além de conseguir a melhor média por sala, o desempenho de A Mulher Invisível confirma a tendência de crescimento do filme nacional este ano. Esta é corroborada pela performance de dois outros sucessos dessa primeira metade de 2009: Se eu fosse você 2, de Daniel Filho, encerrou carreira com mais de 6 milhões de espectadores; Divã, de José Alvarenga Jr., já dobrou a marca do 1,5 milhão.

O público dos dois campeões de bilheteria já soma mais de 7,7 milhões, o que representa 88% da soma de espectadores do filme nacional de 2008. Acrescido dos números de todos os títulos brasileiros lançados este ano até agora, este total ultrapassa o dos espectadores de 2008, que atingiu a casa dos 8,8 milhões. Projeções indicam que o audiovisual pátrio conseguirá reverter o ritmo de queda livre da participação do cinema brasileiro no mercado, que ano passado mal chegou aos 9% do total de ingressos vendidos no país. O recorde aconteceu em 2003, quando esta percentagem chegou a 21%.

Na boca do povo
"As chances de chegarmos ao patamar de 2004, quando a fatia do filme nacional no mercado global chegaram aos 16,4%. Mas o market share é relativo, depende dos lançamentos estrangeiros, do desempenho das próximas produções brasileiras a chegar ao circuito", pondera Almeida. "Se todos as produções brasileiras agendadas até o fim do ano tiverem um desempenho razoável, é bem possível que nos aproximemos dos 15% do total da bilheteria, o que representa um aumento significativo de 40% em relação ao ano passado."

Os realizadores de A Mulher Invisível compartilham o otimismo dos observadores do mercado. O entusiasmo da Conspiração Filmes, coresponsável, com a Lereby Produções, de Daniel Filho, pelo lançamento do filme de Torres, é amparado por um levantamento informal junto ao público.

"Na sexta e no sábado passados, a gente fez uma pesquisa nos cinemas que exibiam o filme no Rio e em São Paulo, para medir o nível do boca a boca. Entrevistamos cerca de 900 pessoas e 96% das respostas foram muito positivas; 60% dos consultados disseram que recomendariam o filme para familiares e amigos", informa Eliana Soarez, produtora executiva do longa-metragem. "Deste universo de espectadores, 37% afirmaram que A mulher invisível é um filme excelente, 44% o qualificaram como muito bom e 15% como bom."

A reversão da inclinação da queda do produto nacional no mercado cinematográfico é a vitória da comédia. O filme de Torres chegou ao circuito ancorado pela excelente repercussão de Se eu fosse você 2, que bateu concorrentes fortes como as superproduções americanas Madagascar 2 (5,2 milhões de ingressos) e X-Men origens: Wolverine (3 milhões). Lançado em 17 de abril e ainda em cartaz em 166 salas, Divã mantêm-se firme no circuito.

"A comédia é, comprovadamente, um gênero de apelo muito forte no mercado nacional", confirma Eliana, que não nega a possibilidade de transformar A mulher invisível em uma nova franquia. "A realização ou não de uma sequência vai depender muito da bilheteria final, e será uma decisão tomada em conjunto com os outros parceiros, a Globo Filmes e a (distribuidora) Warner Brothers."

O selo da Globo Filmes está estampado em outras comédias com potencial de público, apontadas para chegar ao mercado nos próximos meses, como Os normais 2 (agosto), de José Alvarenga Jr., e O bem amado (janeiro de 2010), de Guel Arraes. A própria Conspiração Filmes, produtora de 2 filhos de Francisco (2006), de Breno Silveira, uma das maiores bilheterias da Retomada (superou os 5 milhões de ingressos), também tem planos para investir no gênero em um futuro muito próximo.

"O Cláudio (Torres) mesmo já está desenvolvendo dois novos projetos nessa área. Um deles é A sogra, o outro é O homem do futuro, que ainda está no roteiro", adianta Eliana. A crise mundial, acreditam os analistas, tem sido benéfica ao cinema brasileiro. "Na contramão da tensão financeira, o cinema cresceu em todas as partes do mundo, e por razões diferentes. Aqui no Brasil, o crescimento é motivado pela mudança do perfil do consumo", indica Almeida. "O brasileiro está viajando menos, comprando menos carros e deixando o dinheiro disponível para aplicar em bens de consumo mais baratos. Mas tudo isso não seria possível se os filmes não fossem bons".

JB Online

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