domingo, 28 de junho de 2009

Há tanto tempo que te amo,o filme

Kristin Scott Thomas interpreta ex-presidiária em drama
Divulgação

À primeira vista, o título Há Tanto Tempo Que Te Amo pode levar a pensar que este filme francês se trate de um drama romântico sobre paixões reprimidas e amores não concretizados. Nada mais enganador. A frase vem de uma música que tem uma grande importância para as duas irmãs protagonistas da história e que as remete ao resgate de um doloroso passado.

Roteirizado e dirigido pelo escritor francês Philippe Claudel, Há Tanto Tempo Que Te Amo não deixa de ser um filme sobre o amor. Mas não a paixão romântica e sim um grande afeto que se mostra, nesta história, tão altruísta quanto doloroso. Há uma dor muito grande consumindo os personagens - especialmente as irmãs Juliette (Kristin Scott Thomas) e Léa (Elsa Zylberstein, Pequena Jerusalém).

O diretor estreante Claudel (ganhador do César desta categoria) constrói seu filme em cima de suas personagens - todos muito bem delineados - e encontra atuações excepcionais, especialmente das duas atrizes.

Kristin, cuja imagem costuma estar ligada a inglesas ricas, esnobes e reprimidas, faz um trabalho bastante diferente daqueles que a tornaram famosa, como em O Paciente Inglês (96) e Quatro Casamentos e um Funeral (94), o que lhe valeu uma premiação da Academia Europeia neste filme - em que ela fala um francês bastante eficiente.

Fumando incessantemente e sem nenhum glamour, Juliette, que acaba de sair da prisão depois de 15 anos, não tem condições de sonhar com a retomada sua vida como era antes. Começando do zero, ela aceita o mínimo de ajuda da irmã, até poder conseguir um trabalho e manter-se sozinha.

O drama de Juliette desenvolve-se em fogo brando, de uma forma quase subliminar. É bem aos poucos que o público descobre os motivos da prisão e de sua reticência. Por isso, quando a revelação vêm à tona, é de um poder devastador - tanto para os personagens, que guardam esse peso dentro de si por tanto tempo, quanto para o público, ansioso para descobrir o motivo de tanto pesar.

Lea, a irmã caçula, passou o tempo em negação da tragédia do passado e pouco se lembra da infância em comum com Juliette. Suas escolhas, ao longo dos últimos anos, só serviram para afastar ainda mais as irmãs. Lea pouco visitou Juliette na prisão. E agora, por tudo isso, a tentativa de reaproximação mostra-se ainda mais difícil, embora necessária para a transformação das duas.

A câmera acompanha Juliette o tempo todo, quase sempre em closes no rosto da atriz. E embora a personagem esteja cercada por pessoas, sua linguagem corporal a mantém distante de todos - inclusive da irmã, do cunhado e das sobrinhas. Juliette é a personificação do isolamento e a materialização de uma culpa interna. Mesmo quando um colega de trabalho da irmã, Michael (Laurent Grévill, de Atrizes), tenta aproximar-se dela, Juliette mostra-se distante, resistindo a entregar-se novamente a qualquer tipo de relacionamento.

Quando finalmente, o passado de Juliette vem à tona, é um momento de catarse tanto para as duas irmãs, quanto para o público. Claudel, um acurado observador dos mecanismos familiares, prova com Há Tanto Tempo Que Te Amo que as prisões interiores podem mais opressoras do que as instituições penais da vida real.

Redação Terra

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