Pedro Landin
Nas mãos calejadas do imperador brasileiro do rock, "a guitarra é uma mulher". Assim Erasmo Carlos canta, e ela geme. Solteiro, diz que trocou a quantidade pela qualidade, mantendo a fama de mau com romantismo e humor em alto volume. O novo CD chama-se Rock'n'Roll e canta o "sexo feito com os olhos" de musas que vão de Camila Pitanga e Angelina a Luluzinha. "Toda mulher tem olhar de pidona. Até de olhos fechados, na hora da entrega", diz Erasmo, sobre a canção Olhar de Mangá.
Aos 68 anos e morando quase sozinho - tem o papagaio Elvis -, o músico aguarda para outubro a edição dos 60 capítulos do livro onde contará casos engraçados de artistas. Prestes a comemorar 50 anos de sucesso, como o parceiro Roberto Carlos, Erasmo relembra o furor da Jovem Guarda e avalia o amor através dos tempos.
"Uns preferiam qualidade, mas eu era adepto da quantidade. A melhor mulher era a que estava mais perto. Depois a vida me ensinou outros caminhos", diz. E novas mudanças: "As mulheres gostavam de homens fortes e cabeludos. Hoje, são louros e depilados".
Se após a "festa de arromba" Roberto foi alvo de especulações sobre suposta filha não assumida, Erasmo foi procurado por suposta mãe e fez o exame de DNA, com resultado 'nada consta'. "Ela foi muito correta, hoje é minha fã", conta, com três filhos e cinco netos.
Certos olhares torcidos dirigidos até hoje à Jovem Guarda incomodam Erasmo. "Todo mundo era pobre e sem escolaridade. Ninguém conhecia Marx, só jogador de futebol. Morávamos em casas de cômodo e fomos criados na vida, aí começamos a fazer rock e todo mundo se deu bem".
Alienação? "Nosso desejo era o mesmo do povo, liberdade. Quero Que Vá Tudo Pro Inferno é mais forte como contestação do que 15 músicas de protesto da época", afirma.
Cantando Encontro às Escuras, que fala de um tipo de romance que já viveu muito pelo telefone, bem antes da internet, Erasmo quer parceiras de cabeça aberta que vibrem no ritmo de sua guitarra. Garota ir ao cinema é uma coisa normal, mas... "A mulher para ficar comigo tem que vir na garupa da minha moto", acelera, com os motores roncando.
Quatro anos sem compor com Roberto
Faz quatro anos que Erasmo e Roberto não compõem juntos, mas as inéditas do último encontro estarão no próximo disco do Rei, prometido para o fim deste ano. Ao contrário de Roberto, Erasmo tem arriscado novos parceiros, como Marisa Monte, Marcelo Camelo e Nando Reis - este está no CD com Mar Vermelho. "Sou diferente, preciso dessa multiplicidade para evoluir".
O novo CD tem sonoridade a cargo de músicos como João Barone, Dadi e Liminha, e destaques como Cover, em que Erasmo diz que é seu próprio imitador: "Nunca encontrei um cover meu, então passei a ser ele. Do Roberto há centenas, e nos EUA já vi Elvis negro, japonês, mulher e até bebê".
Sobre o livro, com histórias como a doença sexual que Erasmo contraiu e Jorge Benjor levou a fama (eles dividiam apartamento e Erasmo disse na farmácia que o remédio era para um amigo), o Tremendão diz: "Importante são as piadas no fim, quando vem a gargalhada. Falo de amigos como Roberto, Tim Maia, Chico Anysio", finaliza.
O Dia
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