terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Corredor na Rui Barbosa faz empresários cogitarem a venda de pontos comerciais

 

KETLEN GOMES


No fim da tarde de ontem, reparos estavam sendo feitos na sinalização da Rua Rui Barbosa, onde passará o novo corredor de ônibus de Campo Grande, que será inaugurado hoje, sob protestos de comerciantes instalados na região.


Alguns empresários cogitam até em mudar suas lojas de local, por conta da perda do estacionamento e, consequentemente, de clientes, causada pela obra.


Berocam José Barbosa da Silva, conhecido como Bira, está há 17 anos com seu ponto comercial na via e atualmente cogita vender o espaço por conta da perda de clientes e faturamento.


“Antes de começar essa obra, eu ganhava uma faixa de R$ 3 mil a R$ 4 mil por semana, hoje eu não faturo [esse valor] nem por mês”, relata o empresário, que comenta que chegou a ficar de três a quatro meses sem serviços, por conta das dificuldades de acesso dos clientes à oficina.



“Você imagina aqui, parando três, quatro ônibus. Se você é minha cliente, e você chega, como é que você vai conseguir entrar aqui?”, questiona o empresário, a respeito do local de acesso à sua loja, que fica em frente a uma das novas estações de ônibus.


Bira relata que já deixou de pagar contas de água, luz e internet, porque não tinha condições financeiras.


As dificuldades começaram em janeiro, e o empresário afirma que gostaria de ter tido um auxílio da prefeitura para passar pelas mudanças.


“A gente saiu daquela pandemia, que parou tudo. Quando estava dando uma melhorada, que retomou o fôlego, veio essa obra. Aí essa semana, que eles não estão fechando [a via], apareceu serviço, pouco, mas começou a aparecer cliente, orçamento. Mas está complicado, para eu poder normalizar e acertar esse prejuízo que eu tive vai demorar muito, então eu prefiro vender, sair fora daqui”, comenta comerciante.


Assim como Bira, Oacir Lopes Cavalcante também tem uma oficina na Rui Barbosa e cogita sair do local, após 14 anos do ponto comercial.


“Aqui, como é uma oficina de moto, a gente precisa estacionar moto e onde poderia estacionar [na rua] agora não pode mais, eu não sei como vai ficar”, relata o empresário.


Oacir afirma que é desesperador, pois não sabe onde vai colocar as motocicletas, já que não tem como alugar um espaço maior, por causa das despesas.


“A gente vem acumulando prejuízos desde a reforma dessa via. Uma vez ficou 45 dias trancado aqui, em frente a minha oficina, não passava ninguém. Já viemos de uma pandemia, eu mesmo tive de fazer um empréstimo para manter minhas contas em dia, estou terminando de pagar agora, no terceiro ano depois, e agora mais essa. Eu penso em mudar”, disse o comerciante.


O faturamento da loja de Vanessa Lopes de Souza caiu de 100% para 10%, após o início das obras, em janeiro.


A empresária comenta que não fechou o ponto por conta do investimento feito no prédio, mas cogita a mudança. A loja de Vanessa fica em uma galeria com estacionamento, em frente a uma estação de ônibus.


“Acidente aqui é todos os dias, e mais de um por dia, principalmente em horário de pico. Ficou muito afunilado ali do outro lado [da via, onde não está o ponto de ônibus]. Então o pessoal vem, eles não esperam, e acaba dando engavetamento”, relata a lojista.


Apesar do estacionamento, Vanessa também aponta que, mesmo assim, os clientes não querem parar mais na loja.


“Por mais que a gente tenha o estacionamento, eles [os clientes] acham que não podem entrar na faixa do ônibus para entrar aqui”, exemplifica.


A empresária afirma que ficou todos os dias com a loja aberta, para tentar aumentar as vendas e conseguir pagar as contas, já que teve mês que não teve condições financeiras de quitar o aluguel.


“A gente vai ver como vai ser agora. Não sei se vai ser melhor, se vai ser pior, mas, desde quando começou [a obra], só foi para o pior do pior”, finaliza Vanessa.


A lojista Eliane Hitomi Tutida não cogita uma mudança de local, apesar da perda do estacionamento, vai observar como serão os próximos meses, após a inauguração do corredor de ônibus, para avaliar o impacto da mudança na via, mas afirma que a prefeitura não entrou em contato com os comerciantes para falar sobre o projeto ou auxiliar os empresários.


“Primeiro foi a canalização pluvial, aí depois, quando a gente achou que estivesse tudo prontinho já, eles vieram com a instalação dos pontos de ônibus, mas ninguém falou que ficaríamos sem estacionamento”, comenta.


As reclamações não ficam restritas apenas aos comerciantes da via esquerda da Rui Barbosa, afetados diretamente pelo corredor de ônibus.


Lojistas do lado direito da rua, como o empresário do ramo de tecnologia, que não quis se identificar, também são contra a obra.


“Você nota que 50% do estacionamento de veículos que consumiam nas lojas e no comércio da Rui Barbosa foram perdidos, foram extintos por causa da faixa amarela que pega toda a extensão do lado esquerdo. E, ainda assim, do lado direito, onde tem as ilhas dos pontos de ônibus, as faixas de estacionamento foram extintas para dar lugar ao fluxo de automóveis, e eu observei que o trânsito ficou mais amarrado, mais lento”, relata.


O comerciante afirma que entrou em contato com alguns clientes, e eles comentam que escolheram ir a outros lugares, por conta da dificuldade de estacionar.


OBRA

O corredor passará a funcionar a partir das 5h de hoje, com 152 ônibus de 44 linhas diferentes. Ao todo, são 3,8 km do corredor exclusivo do transporte coletivo, ligação do Terminal Morenão até a Avenida Mato Grosso.


Segundo a prefeitura, serão 986 viagens nos dias úteis. A expectativa é de que o tempo de viagem seja reduzido e, com isso, o tempo de espera dos usuários também diminua. 


Saiba: O percurso no corredor do transporte coletivo começa no Terminal Morenão, segue pelas ruas Chile, Quintino Bocaiúva e Rui Barbosa. Serão cinco estações de embarque.


Com informação do Portal Correio do Estado

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