quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Pagamentos via celular devem ganhar fôlego em 2013



Cerca de 47 milhões de brasileiros enfrentam diariamente alguma dificuldade para fazer transferência de dinheiro. São pessoas que não têm conta bancária e precisam se desdobrar para, por exemplo, sair do trabalho às pressas para entregar algum dinheiro ao filho que está no extremo oposto da cidade.

Mas e se essa transferência pudesse ser feita por meio de uma simples mensagem no celular? Os serviços de pagamento móvel - negócio chamado de mobile payment, em inglês - pretendem oferecer essa facilidade às pessoas, em especial as de classe C e D. Ainda pouco conhecidos dos brasileiros, eles já são uma realidade no sul da Ásia e na África, onde os usuários podem comprar passagens de ônibus em um celular simples, para garantir a viagem com antecedência. Não precisa ser iPhone ou qualquer outro smartphone caro.

Aqui, as iniciativas nessa área são lideradas por operadoras, bancos e credenciadoras. Nesta quarta-feira, a Telefônica e a Mastercard anunciaram uma joint venture chamada MFS(Mobile Financial Services) para oferecer um "produto de inclusão financeira". "É para facilitar a vida de quem, por algum motivo, não tem conta corrente", disse o presidente da MFS, Marcos Etchegoyen.

A maior vantagem do sistema, segundo Etchegoyen, é a sua simplicidade. Para começar a usar o produto (ainda sem nome), bastará a quem é cliente Vivo digitar um código no celular, fazer um cadastro e ir a uma loja parceira da operadora para fazer a carga do dinheiro. É como se o usuário estivesse abrindo uma conta bancária. Ele ainda tem direito a um cartão físico para compras e saques. Mas trata-se de uma conta pré-paga, semelhante ao procedimento usado hoje na carga de crédito no celular pré-pago.

Com o cartão em mãos e o cadastro feito, a pessoa poderá transferir dinheiro para quem também se tornou cliente da MFS, fazer recargas de celular, comprar em locais que aceitem Mastercard e sacar dinheiro em terminais da rede Mastercard Cirrus. A MFS lançará esse sistema em abril de 2013, ano em que a empresa espera conquistar 200 mil clientes ativos e 500 mil transações por mês. "Nossa meta é atingir boa parte da população brasileira", afirmou Antonio Carlos Valente, presidente da Telefônica no Brasil.

A iniciativa da Telefônica e da Mastercard segue o caminho da Oi, primeira operadora a embarcar no negócio do pagamento móvel no País. Há quatro anos, a companhia criou uma empresa chamada Paggo, que acumulava as funções de avaliar crédito, conceder crédito e ser bandeira de cartão. Na época, o consumidor e o lojista trocavam mensagens por SMS em aparelhos Oi para concluir o pagamento. Mas o serviço não engrenou.

A companhia percebeu, então, a necessidade de fazer parcerias. A recente associação com o Banco do Brasil garantiu a análise de crédito e a emissão do cartão de modo mais profissional e o pagamento na loja ficou por conta da Cielo. Hoje, 400 mil contas estão ativadas e ainda há a chance de aproveitar 8,5 milhões de clientes do cartão Ourocard que também estão na base da Oi. "A gente podia continuar sozinho e levar 15 anos ou fazer agora", diz o diretor de inovação e novos negócios da Oi, Pedro Ripper. Quem usa a tecnologia da Paggo só precisa sair de casa com o celular Oi para fazer uma compra em lojas credenciadas pela Cielo.

Segundo o especialista em telecom Guilherme Ieno, o ponto positivo do pagamento móvel é difundir os serviços financeiros para todas as classes. "Para os bancos, o interesse é permitir alcançar quem normalmente eles não alcançam hoje." Ieno questiona, no entanto, o modo como esses serviços serão difundidos, já que as parcerias parecem restringir a atuação do consumidor. "Como vai funcionar a interação entre esses sistemas? Os terminais que aceitam Oi vão aceitar Vivo ou Claro-Bradesco?"

A Claro anunciou recentemente joint venture com o Bradesco para criar também um cartão pré-pago vinculado a uma conta de celular e permitir transações por meio da tecnologia NFC, presente em celulares sofisticados."O serviço financeiro em celular é uma tendência irreversível", diz a diretora de serviços de valor agregado da Claro, Fiamma Zarife. "Quanto mais comodidade você traz, mais a pessoa vai usar o celular."

Crescimento. A empresa de pesquisa Gartner prevê que o número de usuários do pagamento móvel na América Latina seja de 10.479 milhões em 2013, ante os 8.456 milhões previstos para 2012. Para 2016, a Gartner estima que o mercado mundial terá 448 milhões de usuários e movimentará US$ 617 bilhões.

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