segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Morre o grande mestre-sala Delegado, da Mangueira

Morreu nesta segunda-feira, aos 90 anos, o mais famoso mestre-sala do carnaval carioca. Hélio Laurindo da Silva, conhecido como Delegado (por “prender” as cabrochas na conversa), era presidente de honra da Mangueira e estava internado na Clínica Santa Branca, em Duque de Caxias, com câncer de próstata. A notícia foi confirmada pelo presidente da escola de samba, Ivo Meirelles, em seu blog e na página que mantém no Facebook. A família ainda não divulgou os detalhes sobre o velório.

Ivo Meirelles escreveu: “Lamento, profundamente, informar que acaba de falecer o maior mestre-sala de todos os tempos e nosso presidente de honra, Mestre Delegado! (...) E que Deus possa receber em paz a alma deste que, para mim, foi o mais mangueirense dentre todos os mangueirenses.”

Nasceu sabendo

Filho de um dançarino de valsa e de uma doceira, ele teve um irmão ritmista, responsável pelo surdo (instrumento-chave da bateria) e uma irmã, Suluca, da ala das baianas. Entre Cartola, Carlos Cachaça, Balalaica, Chico Porrão e outros mangueirenses que fizeram a história da escola, construiu a mais sólida amizade com Waldomiro, fundador e primeiro presidente da bateria Surdo 1, a orquestra verde e rosa.

Chegou a flertar com a ala — mangueirense que se preze é cevado no ritmo vigoroso dos tambores —, mas, ainda adolescente, passou a observar Jorge Rasgado, o mestre-sala da época, até se enfeitiçar por completo. Imitava os passos, caía, levantava, repetia. Estreou dia 8 de fevereiro de 1948, na Praça Onze, a Sapucaí de então. A Mangueira cantou o Vale do São Francisco (samba de Cartola e Carlos Cachaça) e ficou em quarto lugar no carnaval, vencido pelo Império Serrano. Delegado e Nininha, seu primeiro par, ganharam nota 10. Nascia a lenda.

O primeiro dos oito títulos no posto veio no ano seguinte, início de uma saga interrompida apenas por doença, como a contraída numa viagem à França, em pleno inverno. Não prestou.
— Aquela friagem me derrubou. Muito ruim — reclamou, em entrevista à Revista O GLOBO, publicada em 7 de agosto de 2011.

O último ano como mestre-sala foi o predileto: 1984, inauguração do Sambódromo, do enredo "Yes, nós temos Braguinha". Foi também o primeiro desfile em dois dias (a Portela venceu domingo, e a Mangueira, segunda). No sábado seguinte, veio o desempate, e a verde e rosa acabou supercampeã, com a suprema apoteose de voltar pela Avenida, delírio jamais repetido na história da festa.
— Achei que era a hora. Minhas porta-bandeiras estavam se aposentando, não fazia mais sentido — contou Delegado, no melhor modelo sambista, a sábia decisão de, como Seinfeld, os Beatles e mais uns poucos, parar no auge.

Nos últimos desfiles, ele saía no carro dos baluartes, o mais esperado no sempre visceral desfile mangueirense, ao lado de bambas como Nelson Sargento, Ed Miranda, Raymundo de Castro. Mas ia aos ensaios técnicos de todas as escolas na Passarela, para curtir o samba e vigiar, com olho clínico, os casais da bandeira.

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