domingo, 30 de dezembro de 2012

Naldo,o cara que cada vez quer mais


O Globo
Não é de hoje que Ronaldo Jorge Silva, o Naldo, é apontado como o provável cara do verão. Quando 2011 chegou, tudo indicava que seria ele, estourado que estava com a música “Chantilly” e ainda ameaçando chegar às paradas com “Exagerado”. No começo de 2012, quando “Exagerado” já tocava em todo canto, ele tinha outro sucesso: “Amor de chocolate”, cujo vídeo hoje soma mais de seis milhões de views na internet. Agora, o ano caminha para o fim, um novo verão se inicia, e lá está Naldo novamente — só que com força redobrada.

Terça-feira, antes do show de Stevie Wonder na praia de Copacabana, Preta Gil cantou com o pai, Gilberto, uma de suas músicas: “Meu corpo quer você”, que, nas vozes dela e de Naldo, está na trilha da novela “Salve Jorge”. Ao mesmo tempo, o cantor ainda desponta com mais um hit: “Se joga”, a primeira etapa de uma almejada carreira internacional, com participação do rapper americano Fat Joe (da música “What’s luv?”, onipresente nas festas hip-hop do Rio).

— Minhas canções são para cima, dançantes. A noite necessita disso — conta Naldo, hoje um dos artistas mais ocupados do showbiz brasileiro, com uma média de 35 shows por mês.
Nos próximos dias, o cantor mal conseguirá respirar. No domingo, ele participa do pré-réveillon de Preta Gil no Vivo Rio. Na terça-feira, anima três festas de ano novo diferentes. E depois, como ninguém é de ferro, vai para a festa na casa de Romário, um entre os vários grandes nomes do futebol que são seus amigos (e fãs).

Será o refresco antes de um ano que promete fortes emoções. Nos próximos dias 12 e 13, Naldo faz no Citibank Hall os show de encerramento da turnê de “Na veia”, o DVD que lançou, à própria custa, no ano passado, e que o catapultou ao estrelato. Depois, ele grava participação no novo DVD do Roupa Nova, cantando a versão que fez para “What’s going on”, clássico de Marvin Gaye. Elba Ramalho está com três músicas suas para seu novo CD. E, até o meio do ano, chegará a vez de Naldo partir para um novo DVD, com participações de Fat Joe e de seus novos amigos, os sertanejos Jorge & Mateus.

— Compus uma música para cantar com eles, “Tudo que eu quero”. Pode escrever aí, vai ser uma porrada — avisa o artista de 33 anos, que veio da Vila do Pinheiro, no Complexo da Maré, trabalhou como engraxate, garçom e segurança de supermercado antes de vencer na música, e que hoje anda em carros de luxo e calça tênis que custam mais de mil dólares cada pé.

A música entrou na vida de Naldo por intermédio da família. A mãe, evangélica, o levava para o coral da igreja. A irmã tocava para ele discos de Michael Jackson, Roberto Carlos, RPM e Menudo. E o irmão três anos mais novo, Jorge Luiz, também conhecido como Lula, vivia implorando para que fizessem uma dupla de MCs.

— Nessa época eu tinha uma namorada que não podia nem me ouvir falar que ia cantar — conta Naldo. — Mas quando eu enfim me juntei ao Lula, comecei a mudar as letras dos raps, tentando melhorá-los, e tomei a frente.

Nos anos 1990, Naldo & Lula começaram a ganhar concursos de rap e a se integrar à cena de MCs do funk carioca. Claudinho & Buchecha, dupla que fez a passagem dos pancadões para o pop, era a grande referência dos irmãos.

— Nascido numa comunidade onde você não consegue grana para comprar um violão ou uma guitarra, o funk é o som em que você consegue pegar uma base crua, gravar uma música, e o negócio explode — conta Naldo, que, a partir daí, buscou seguir o caminho de Claudinho & Buchecha, tomando aulas de canto e dicção.

Depois de um disco que não deu certo (e de outro que sequer foi lançado), em 2005 Naldo & Lula enfim estouraram com o funk melody “Tá surdo”. Sem gravadora, sem empresário, só ele e o irmão. Dois anos depois, “Como mágica” se tornou uma das músicas mais tocadas do país. Ao mesmo tempo, Naldo conquistou louros como compositor, quando Belo e Perlla gravaram, em dueto, a sua “Depois do amor”. Em 2008, a tragédia: o corpo de Lula apareceu carbonizado, em Bangu, dias depois de o MC ter desaparecido.

— Eu que fui lá reconhecer o corpo. De uma certa forma, foi bom, porque eu não tenho uma imagem dele com o rosto machucado, ferido... — emociona-se Naldo, relutando em dar detalhes sobre o crime. — (O assassino) foi preso, depois eu fiquei sabendo por alto, as pessoas vieram me dar relato de tudo. Prefiro não ficar remoendo, não voltar àquela história.

Para superar o episódio, o cantor resolveu seguir o conselho que o irmão lhe dera pouco antes de morrer: mergulhou na dança. Teve aulas com o seu coreógrafo e velho amigo Marcus Azevedo (da companhia Dança Charme & Cia.) e treinou movimentos acrobáticos com a Intrépida Trupe. Hoje, ele tem sua própria companhia, a Reflexo Urbano, que vai estar no seu próximo DVD e deve virar instituição, o Projeto Now Do, para profissionalizar dançarinos.

Seu primeiro sucesso solo foi logo em 2009: a canção “Na veia”. O resultado de uma nova e estudada orientação em termos de composição.

— Não queria fazer uma música falando de amor. Eu queria era imaginar que estava entrando numa boate, chutando a porta, pegando a mulher e jogando em cima da mesa — ilustra esse popstar hoje especialista em músicas que casam sexo e comida, como Chantilly (“Traz champanhe e sabe me enlouquecer / Pega o chantilly na hora de sentir prazer”), “Exagerado” (Pega o sorvete com Leite Moça / Esfrega e deixa bem lambuzado”) e, claro, “Amor com chocolate”.

— São ingredientes que fazem a imaginação ir longe. Tento relatar o que acontece com um casal entre quatro paredes. O que é natural, mas sem ser vulgar. Percebi que os funks que bombavam eram os mais pesados. Fiz algo com aquela intenção, mas um pouco mais soft, se é que se pode dizer.
— Naldo é a bola da vez — confirma Lulu Santos, de quem, aliás, ele anda cantando “Casa”. — Essa música popular urbana que nasce das comunidades e que, episodicamente, como um gêiser, explode e vaza pra geral, vive desses impulsos. Agora, sem pestanejar, é o Naldo.

— Ele é um artista que fala com todas as classes sociais — acrescenta Preta Gil. — Naldo tem o DNA do pop, sabe exatamente o que quer.
Hoje, cada passo da carreira internacional do cantor tem sido muito bem pensado. Os tempos do MC Naldo ficaram na poeira. Hoje, ele assina como Naldo Benny (a palavra acrescentada, segundo ele, significa “abençoado” em hebraico). E na “Se joga”, que gravou com Fat Joe, ele fez questão de recuperar o tamborzão do funk.

— Queria que essa primeira faixa internacional tivesse a essência do Rio — diz o cantor, agora muito dedicado às aulas de espanhol.

— Andei pensado muito que um cara como eu, do Brasil, que se decidisse a fazer uma carreira nos Estados Unidos, cantando em inglês, ia acabar invadindo o espaço dos caras, que fazem há tanto tempo — elabora. — Resolvi então investir no público latino, que existe lá e também na Europa. Tenho essa preocupação de não viajar muito. De não querer, do nada, cantar em inglês e ser americano.

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