Ao aprimorar uma técnica que aprendeu quando produzia em áreas secas, o arrozeiro João Hanus, de Nova Santa Rita/RS, hoje utiliza 44% menos água em comparação com uma lavoura convencional. A boa prática do produtor da Grande Porto Alegre é um exemplo para o Dia da Água, que em 22 de março lembra a população mundial da importância de preservar esse recurso da natureza.
No modelo convencional, para levar à mesa do consumidor um quilo de arroz, são consumidos 2.500 litros de água, desde o plantio até o beneficiamento (incluindo a etapa de descascar o grão). A lavoura de Hanus, na Granja Nenê, a cerca de 30 quilômetros da capital gaúcha, para cada quilo, consome 1.100 litros a menos. Considerando o total da produção de uma safra na propriedade (6,5 mil toneladas), o volume preservado é capaz de abastecer 100 mil pessoas em um ano inteiro, conforme a média do brasileiro, de 200 litros por dia.
Para chegar a essa economia, Hanus combina o sistema de arroz pré-germinado com um manejo que aproveita as características das estações, como se trabalhasse em parceria com o clima. O solo começa a ser preparado em julho e agosto porque são meses chuvosos no Rio Grande do Sul. A água vinda do céu encontra um terreno nivelado, dividido em quadros, como tanques rasos, e ali com formação de lama se acomoda para germinar as sementes. “Ao escolher essa época do ano para o plantio e antecipar a preparação do terreno, poupo o rio e diminuo os custos com a irrigação, sem falar em economia de energia também, ao deixar de gastar com bombeamento”, conta.
A água também é preservada pelo fato de que a forma de irrigação, com lâminas permanentes, evita a formação de ervas daninhas e, por isso, exige menor uso de agroquímicos. Assim, controla o arroz vermelho - um inço, terror dos arrozeiros -, dispensando agrotóxicos e mantendo a terra fértil. “Com esse método implantado, conseguimos reduzir o uso de defensivos em aproximadamente em 45% e o de fertilizantes químicos, em 30%”, compara.
Para o técnico agrícola Danilo Mielczarski, conhecedor da técnica e das lavouras da região, esse modelo tem ganhos que vão além da sustentabilidade. Ele avalia como uma boa alternativa para o desafio da segurança alimentar: em tempos com inflação elevada, o arroz pré-germinado ajuda na redução dos custos para o consumidor e no abastecimento da população.
Como tudo começou
Hanus começou a trabalhar com pré-germinado no sul de Santa Catarina, onde nasceu, e foi um dos primeiros a trazê-lo para território gaúcho. Transferiu-se há quase 25 anos, em 1998, em busca de melhores oportunidades. Desde então, a adoção desse sistema se expandiu no Estado responsável por 70% da produção nacional, mas ainda representa uma fatia pequena em comparação ao convencional: em torno de 10%.
A limitação de irrigação na propriedade de sua família, no sul catarinense, forjou um produtor que hoje, mesmo a poucos metros do Rio Caí, mantém a virtude de aproveitar a chuva. “Fico doente quando vejo desperdício de água”, diz. O pré-germinado, com o manejo que desenvolveu, dá mais trabalho, reconhece Hanus, além de exigir maior investimento inicial. “Mas a nivelação do terreno, por exemplo, você só faz uma vez”, observa. “É um projeto caro, mas a longo prazo se paga e, o mais importante, preserva a água.”
Produtividade
Além do ganho em sustentabilidade, há o de produtividade. A média no Rio Grande do Sul hoje é de cerca de 9 toneladas por hectare, tornando o Estado um case mundial. Na lavoura de João Hanus, o desempenho é ainda melhor, chegando a atingir uma produtividade um terço acima da média: 12 toneladas por hectare, e consumindo muito menos água.
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