Assim como esperado pelos agentes do setor, o preço do leite no campo registrou a sétima alta consecutiva em agosto e, com isso, atingiu novo recorde da série histórica do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP, iniciada em 2004. Segundo a pesquisa do Cepea, o leite captado em julho/22 e pago aos produtores em agosto/22 se valorizou 11,8%, chegando a R$ 3,5707/litro na “Média Brasil” líquida do Cepea. Com isso, o valor médio do leite acumula avanço real de 60,7% desde janeiro/22 (os dados foram deflacionados pelo IPCA de julho/22). Ressalta-se, no entanto, que pesquisas do Cepea ainda em andamento indicam que o movimento de alta deve ser interrompido, com possibilidade de forte queda no preço do leite a ser pago ao produtor em setembro, referente à matéria-prima captada em agosto.
O encarecimento do leite no campo ao longo dos últimos meses se deve à baixa disponibilidade. O avanço da entressafra intensificou a restrição de oferta de leite, mas, neste ano, o setor enfrenta um enxugamento mais drástico da produção, devido à combinação de seca e mudanças estruturais no campo, desencadeadas, por sua vez, pelo aumento nos custos de produção nos últimos anos e pelos menores níveis de investimentos na atividade.
Nesse cenário, a produção no campo entre junho e julho ficou abaixo da expectativa do setor, mantendo acirrada a disputa entre laticínios e cooperativas por fornecedores de leite cru. Com a captação abaixo do esperado, houve diminuição importante nos estoques de lácteos e, consequentemente, encarecimento expressivo dos derivados ao consumidor entre junho e julho.
Porém, os preços atingiram patamares tão elevados nas gôndolas que, desde a segunda quinzena de julho, observa-se enfraquecimento da demanda. Com estoques aumentando no varejo, a pesquisa do Cepea que monitora as negociações diárias entre indústria e atacado paulista mostrou diminuição nos preços dos lácteos ao longo de agosto. Na média mensal, o leite UHT e a muçarela se desvalorizaram quase 15% e 10% de julho para agosto, respectivamente. Essas quedas no mercado de derivados devem ser transmitidas ao campo, resultando, portanto, em diminuição no preço do leite captado em agosto e a ser pago ao produtor em setembro. Outro fator que deve interromper o movimento altista ao produtor em setembro é o forte aumento das importações, que cresceram 27% em julho.
Além disso, a oferta no campo também deve voltar a aumentar nos próximos meses. O incremento considerável nos preços do leite e a queda nas cotações da ração começaram a estimular uma recuperação gradual da produção no campo – sobretudo no Sul do País. Ao mesmo tempo, espera-se que o retorno das chuvas da primavera favoreça a disponibilidade das pastagens e, com isso, eleve a oferta de leite. Assim, forma-se um novo cenário no mercado, no qual a demanda enfraquecida e o aumento das importações elevam os estoques de derivados, ao mesmo tempo em que a produção no campo dá sinais de recuperação.
Os dados são do Cepea.
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