Agência Brasil
O Banco Central da Rússia mais do que dobrou sua taxa básica de juros nesta segunda-feira e introduziu alguns controles de capital, enquanto o país enfrenta um isolamento econômico cada vez maior. A presidente do banco disse que as sanções aplicadas ao país pela guerra na Ucrânia o impediram de vender moeda estrangeira para sustentar o rublo.
A admissão de que as restrições efetivamente amarraram as mãos do Banco da Rússia ressalta a ferocidade da reação à invasão da Ucrânia por Moscou e ao sucesso dos aliados ocidentais em restringir sua capacidade de usar as reserva de 640 bilhões de dólares em divisas e reservas de ouro.
"O Banco Central aumentou hoje sua taxa básica para 20%, pois novas sanções provocaram um desvio significativo da taxa do rublo e limitaram as opções do Banco Central de usar suas reservas de ouro e câmbio", disse a presidente do banco, Elvira Nabiullina, em entrevista coletiva.
"Tivemos que aumentar as taxas para compensar os cidadãos pelo aumento dos riscos inflacionários".
As sanções ocidentais já haviam feito o rublo cair quase 30%, alcançando valores mínimos recordes. Ele recuperou algum terreno depois que o Banco Central aumentou sua principal taxa de juros para 20%, o nível mais alto deste século.
O Banco da Rússia vendeu 1 bilhão de dólares em mercados de câmbio na quinta-feira, disse Nabiullina, mas não interveio na segunda-feira.
"Dadas as restrições ao uso de reservas de ouro e forex em dólares e euros, não realizamos intervenções hoje", disse Nabiullina. Isso sugere que o rublo foi apoiado por outros participantes do mercado não identificados.
Na segunda-feira, o Banco Central e o ministério das finanças disseram que ordenariam que as empresas exportadoras, que incluem alguns dos maiores produtores de energia do mundo, da Gazprom à Rosneft, vendessem 80% de suas receitas cambiais no mercado, já que a capacidade do próprio Banco Central de intervir nos mercados cambiais foi restrita.
Os Estados Unidos e a Grã-Bretanha proibiram seus cidadãos ou entidades de fazer transações com o Banco Central russo, o Fundo Nacional de Riqueza da Rússia ou o Ministério das Finanças russo.
A Suíça disse que adotará sanções da União Europeia contra russos envolvidos na invasão da Ucrânia e congelará seus bens, em um grande desvio das tradições do país, tradicionalmente neutro.
Demanda
Os principais bancos da Rússia também foram excluídos da rede de mensagens SWIFT, que facilita trilhões de dólares em transações financeiras em todo o mundo, dificultando que credores e empresas façam e recebam pagamentos.
Nabiullina disse que a Rússia tinha um substituto interno para o SWIFT ao qual as contrapartes estrangeiras poderiam se conectar, mas não deu detalhes.
Ela disse que o setor bancário enfrenta "um déficit estrutural de liquidez" por causa da alta demanda por dinheiro e que o Banco Central está pronto para apoiá-lo.
"O Banco Central será flexível para usar quaisquer ferramentas necessárias... os bancos têm cobertura suficiente para captar recursos do Banco Central", disse Nabiullina.
Os russos fizeram fila do lado de fora dos caixas eletrônicos no domingo, preocupados que as sanções pudessem provocar escassez de dinheiro e interromper os pagamentos.
"Todos os bancos cumprirão suas obrigações e os fundos em suas contas estão seguros", disse Nabiullina, embora o Banco Central esteja recomendando que os bancos reestruturem os empréstimos de alguns clientes.
O braço europeu do Sberbank SBER.MM , o maior credor da Rússia, estava prestes a falir, alertou o Banco Central Europeu na segunda-feira, após uma corrida em seus depósitos provocada pela reação da invasão russa à Ucrânia.
Nabiullina disse que outras decisões de política monetária serão orientadas pela avaliação dos bancos centrais sobre os riscos externos, acrescentando que será flexível em suas decisões, dada a "situação fora do padrão" enfrentada pelo sistema financeiro e pela economia.
O rublo estava sendo negociado em queda de cerca de 18% no comércio do final da tarde em Moscou. As bolsas de valores russas e os mercados de derivativos foram fechados para se proteger de novas perdas.
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