sexta-feira, 25 de fevereiro de 2022

Agro pode neutralizar emissões de carbono até 2030

 



Segundo a FGV a recuperação de pastagens e ILPF são as grandes aliadas no processo
Por:  -Eliza Maliszewski


Estudos do Observatório de Conhecimento e Inovação em Bioeconomia, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), projetam que o agronegócio brasileiro tem potencial para neutralizar as emissões de gases de efeito estufa provenientes das produções pecuárias e de soja até 2030, seguindo a agenda da  Organização das Nações Unidas (ONU).



Segundo os pesquisadores os processos para a descarbonização da produção estão na recuperação de pastagens degradadas, evitando o desmatamento, e a adoção dos sistemas integrados de Lavoura-Pecuária-Floresta (LFP).


Os pastos degradados somam 70,9 milhões de hectares dos 167 milhões de hectares do território nacional, ou seja, 42% tem degradação moderada ou severa. O estudo afere que essa degradação dos pastos afeta diretamente a capacidade de suporte das áreas, e que esse processo, além de gerar prejuízos econômicos ao produtor, tem também impactos negativos ao meio ambiente.


Já os sistemas ILPF consistem em combinar diferentes tipos de produção agropecuárias na mesma localidade. Ou seja, o produtor terá uma rotatividade do uso do solo, entre lavoura e pecuária. A pesquisa afirma que “a combinação de agricultura e pastagem dentro da mesma área leva a sinergias entre os componentes do sistema que podem gerar ganhos de produção, redução de custos e melhoria dos serviços ecossistêmicos de biodiversidade”. Esse tipo de integração ainda reduz os riscos de perda da atividade agrícola relacionados ao clima e à variação de preços de mercado.


O setor agropecuário é responsável por 28% das emissões totais de GEES no país. Entretanto, é o principal responsável pela emissão de gás metano (CH4) no Brasil, equivalente a 76,1% das emissões. De acordo com as conclusões da pesquisa, até 2030 haveria a remoção líquida total de 1.223,6 Mt CO2eq, em média 94,1 Mt CO2eq/ano, invertendo, dessa forma, as emissões do sistema de pecuária associadas às pastagens.


Entre 1990 e 2020, a produção de soja no Brasil cresceu 532,9%, e a áreas plantadas cresceram 229%. Atualmente a produção de soja gira em torno de 3,3 toneladas por hectare (t/ha), 92,4% a mais do que os 1,7 t/ha produzidos em 1990. É a principal cultura agrícola brasileira e seu valor bruto da produção (VBP) atingiu R$250,8 bilhões em 2020, representando 42,0% do total do VBP agrícola e 28,0% dos R$896,7 bilhões de toda a agropecuária nacional.


Na área das plantações, a soja brasileira já considerada uma cultura de “baixo carbono”, emite cerca de 9 Mt CO2eq ao ano. Isso porque a principal forma de plantação no país é o sistema de plantio direto (SPD), que consiste em plantar as sementes sem as etapas de aragem e gradagem do solo, ou seja, sem um preparo anterior da área. Dessa forma, para proteger o solo, é necessário mantê-lo sempre com vegetação ou com plantas em desenvolvimento.


Assim, através da expansão do SPD, até 2030, um total de 25,9 Mt CO2eq poderiam deixar de ser jogados na atmosfera, já que esse sistema aumenta o potencial de sequestro de carbono da soja. Os pesquisadores apontam ainda que a produção do grão no Brasil tem potencial para não ser apenas “carbono neutro”, como também um sumidouro de carbono.

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