quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

ESTREIA-Em "O que está por vir" cineasta Mia Hansen-Love alcança novo território


Isabelle Huppert passeia sua desenvoltura dramática para conduzir o drama “O que está por vir”, que deu o Urso de Prata de melhor direção à jovem cineasta francesa Mia Hansen-Love.

Se, aos 35 anos, a diretora já foi capaz de compor pungentes retratos de juventude em filmes anteriores, como “Adeus, Primeiro Amor” (2011), neste novo trabalho, que estreia em São Paulo, ela alcança outro território ao traçar um nuançado retrato dos dilemas da meia-idade de uma professora de filosofia, Nathalie Chazeaux (Isabelle Huppert).

Racional e contida, Nathalie parece ter os comandos de sua vida nas mãos. Casada há 25 anos com outro professor de filosofia, Heinz (André Marcon), ela tem filhos já adultos e vivendo fora do lar do casal. Tem um emprego estável numa escola de ensino médio e publica regularmente seus trabalhos numa editora. Faz o que gosta e ama sua vida. E tem um amigo próximo na figura de um jovem ex-aluno, Fabien (Roman Kolinka), cuja evolução ela acompanha e estimula.

O único sinal de descontrole em sua vida é sua mãe idosa, Yvette (Edith Scob), que está perdendo rapidamente a sanidade e exigindo cada vez mais suas intervenções, enchendo-a de angústia diante da iminência de interná-la numa instituição.

Aos dissabores com a mãe somam-se rapidamente outros. O mais grave deles, a descoberta de que o marido tem outra mulher, levando ao desmoronamento de uma base de sua vida que ela julgava permanente.

Sem perder sua aura lógica, Nathalie segue um roteiro para compreensão racional deste abalo que tira a terra de debaixo de seus pés.

Por mais racional que seja, não lhe escapa que a nova situação lhe acarreta algumas perdas, das quais o afastamento da casa de praia da Bretanha, que pertence ao marido, é um símbolo eloquente. Naquela casa, ela vai deixar para trás um jardim que cultivou por anos a fio, a cada temporada de férias, e do qual não lhe restarão mais do que lembranças.

Mesmo rígida, Nathalie não deixa de abrir-se a algumas novas experiências, como passar alguns dias na comunidade no campo onde agora vive seu ex-aluno preferido, ao lado da namorada e de alguns outros jovens dispostos a uma vida alternativa. Levando consigo a gata da mãe, Pandora, que rapidamente desaparece, Nathalie experimenta outro mergulho em território desconhecido.

Contando com uma intérprete afinada como a veterana Huppert, o filme consegue dar conta de uma dedicada exploração da experiência feminina de uma mulher madura que decide afrontar uma era de perdas sem sucumbir à ruína.

Transformando seus infortúnios em desafios à sua racionalidade exacerbada, ela cava espaços também para reacomodar seus sentimentos.

Nesta nova ordem, cabem também algumas compensações, que alguns podem até considerar vingança - como na sequência final, envolvendo o ex-marido e um Natal. Mas nenhuma reação descabelada ou excessiva nesta pequena dama francesa de emoções de aço.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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