terça-feira, 28 de abril de 2009

CD de Milton Nascimento com jazzistas franceses sai no Brasil

Leandro Souto Maior/JB.



Seus pupilos Lô Borges e Beto Guedes são publicamente favoráveis à ideia de um terceiro volume do emblemático projeto musical comunitário Clube da Esquina, mas Milton Nascimento, um dos donos da bola, considera que este álbum já existe. Em Angelus (1993), os velhos amigos mineiros ficaram de fora, preteridos pelas estrelas internacionais James Taylor, Jon Anderson e Peter Gabriel. É um disco tão emblemático para o cantor e compositor que foi o estopim a gerar Milton Nascimento & Belmondo (Biscoito Fino). Gravado e lançado na França em 2007, só agora o CD com os irmãos sopristas franceses Lionel (sax soprano e flauta) e Stéphane Belmondo (flugelhorn) sai no Brasil.

"Em Paris um deles me disse que adorava o Angelus e que o considerava um disco pouco reconhecido perto de sua grandiosidade", aponta Milton. "Isso soou como uma palavra mágica, porque para mim esse é o Clube da Esquina 3, que começou numa fazenda em Minas Gerais e acabou nos Estados Unidos e foi muito baseado na amizade".

Parceria de pedra
Milton Nascimento & Belmondo foi registrado antes mesmo do Novas Bossas, com o Jobim Trio. Para não ofuscar o lançamento deste, a chegada no Brasil do disco com os Belmondo ficou adiado. Estrelas do jazz francês, os irmãos colocaram pitadas do gênero norte-americano na música mineira de Milton Nascimento - que na verdade é carioca.

"Fui para Minas com pouco mais de 1 ano", recorda o morador do Itanhangá. "Na adolescência, andava pelas montanhas e certo dia um amigo deu um berro e a voz voltou. Nunca havia presenciado o eco. Comecei a fazer o mesmo, só que quando minha voz voltava eu já fazia outra em cima, como um coralzinho. Posso afirmar, então, que meus primeiros parceiros foram as montanhas de Minas Gerais".

Na Cidade-Luz, rapidamente se ambientou com a transposição do queijo minas para o brie. A produção dos jazzistas incluiu até orquestra sinfônica.

"Minha relação com o jazz é antiga", define Milton. "O primeiro músico estrangeiro que eu conheci foi o Herbie Hancock. Ele ficou impressionado e falou de mim no exterior. Alguns anos depois, o Wayne Shorter me contactou e juntos gravamos o disco Native Dancer, em 1975. Devo ao Wayne o começou de uma repercussão internacional da minha carreira.

Assim como aconteceu na dobradinha com o saxofonista do Weather Report, quando Milton fez questão de incorporar os amigos Wagner Tiso e Robertinho Silva ao projeto, neste com os Belmondo mais uma vez levou músicos de sua banda. A inclusão de Wilson Lopes (guitarra) e Lincoln Cheib (percussão) foi o único pitaco que Milton deu na produção.

"Todo o repertório e arranjos foram definidos por Lionel e Stéphane", conta. "Foi a primeira vez que deixei alguém fazer tudo por mim".

A seleção dos irmãos franceses só incluiu clássicos imbatíveis. As releituras para Ponta de areia, Canção do sal, Travessia, Morro velho, Nada será como antes e Saudade dos aviões da Panair pouco se desassemelham das versões originais em suas melodias. Não houve a pretensão de bulir muito com os sagrados e definitivos arranjos originais. O diferencial é algo de novo nas harmonias e a inclusão de longos improvisos dos instrumentistas. Essas jams ainda não têm previsão de aterrissar nos palcos brasileiros.

"Nos apresentamos na Europa com a Orquestra Nacional da França para lançar o CD. Shows estes que coincidiram com o início da turnê do Jobim Trio. Tinha dia que saía de casa e nem sabia mais que show estava indo fazer", diverte-se o cantor. "Os Belmondo estão me devendo uma visita. Eles devem vir, até porque estamos celebrando o Ano da França no Brasil. Eu sugeri até que poderíamos realizar o show com a Petrobras Sinfonica, que é uma orquestra que eu adoro".

Clube da Esquina 4
Enquanto os franceses não vêm, Milton Nascimento prepara um novo álbum de inéditas, algo que não lança desde Pietá (2002).

"Tenho trabalhado muito, fazendo músicas para cinema e espetáculos de dança, mas estou decidido a fazer um disco especial este ano", afirma. "A produção será de Wagner Tiso e terá composições com meus velhos amigos Fernando Brant, Ronaldo Bastos e Márcio Borges, além do mais recente parceiro, o Chico Amaral".

Sobre a possibilidade de realização do sonho de Lô e Beto, de uma nova reunião dos integrantes originais do Clube da Esquina para um novo álbum, Bituca deixa no ar:

"Minha vida sempre me reserva surpresas. Não me oponho, só não tenho nada pensado. Agora, se vier a acontecer, será o número 4, porque o Angelus é definitivamente o Clube da esquina 3".

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