© AFP - IRINA DAMBRAUSKAS
RFI
A primeira viagem internacional do terceiro mandato do presidente Lula, desta segunda (23) até quarta-feira (25) à Argentina e ao Uruguai, é noticiada com destaque pela imprensa francesa. O jornal Les Echos, principal diário econômico do país, fala em "ofensiva diplomática" do novo governo e informa que Brasil e Argentina decidiram iniciar discussões para a criação de uma moeda comum destinada a contrabalançar o poder do dólar.
"A ideia é potencialmente uma pedra no sapato do Tio Sam", escreve Les Echos nesta segunda-feira (23), acrescentando que o projeto não é novo e já tinha sido evocado pelo ex-presidente argentino Carlos Menem, nos anos 1990. A moeda comum já tem nome – "sul" em português, "sur" em castelhano –, uma denominação altamente simbólica.
O texto compara o projeto à moeda única europeia – "nada mais nada menos que um euro sul-americano", nota o jornal francês. Caso venha a se tornar realidade, "esta moeda poderia mudar muita coisa na economia mundial, uma vez que o dólar é a principal ferramenta de dominação dos Estados Unidos no continente", explica o correspondente em São Paulo.
A desdolarização da economia mundial é um processo lento, mas que está em curso, segundo o Les Echos. As recentes sanções americanas adotadas contra a Rússia devido à invasão da Ucrânia congelaram as reservas cambiais em dólar do Banco Central da Rússia, mostrando a outros países que os Estados Unidos podem de uma hora para outra fazer o mesmo com outras nações, se sentirem seus interesses ameaçados, afirma o diário francês.
"O projeto de união monetária é mais um passo na direção da fragmentação do mundo e da organização de um contrapoder na América", avalia Les Echos, lembrando que Brasil e Argentina representam juntos 5% do PIB mundial. Trata-se de um peso menor do que os 15% da zona do euro, mas nem por isso negligenciável.
Ao participar na terça-feira da cúpula dos presidentes da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), Lula busca retomar relações privilegiadas com outros países da região, além das fronteiras do Mercosul, sublinha o veículo. Analistas ouvidos na reportagem consideram que é um retorno da diplomacia Sul-Sul, que sempre caracterizou a ação dos governos anteriores de Lula, para que o Brasil conserve uma influência na região, em detrimento dos Estados Unidos e da União Europeia.
No final do mês, Lula receberá o chanceler alemão, Olaf Scholz, em Brasília, e depois deve prosseguir com sua ofensiva diplomática no resto do mundo, conclui Les Echos.
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