Canal Rural-Reprodução
Em um iniciativa inédita, cooperativas gaúchas estão monitorando a incidência de lagartas na safra de soja do Rio Grande do Sul. Estações espalhadas em todas as regiões do estado identificam e avisam quando alguma espécie aparece. Assim, o produtor rural pode prever o controle.
O Clóvis Panta já tem 40 anos dedicados ao plantio da soja. No começo eram só alguns hectares. Nesta safra, porém, a área soma 900 hectares em Rio Pardo, município da região central do Rio Grande do Sul. Na propriedade dele, aqui as lagartas já deram trabalho em anos anteriores. “Dava muito problema. A gente perdia soja, venenos mal aplicados, tecnologia de aplicação muito ruim e isso aí foi melhorando com o tempo. Já faz três anos que eu não vejo mais lagarta na minha lavoura”, conta o produtor à reportagem do Canal Rural RS.
Agora, o Clóvis e outros sojucultores do estado sulista têm mais uma forma de ver se realmente os insetos não estão na lavoura. Isso porque produtores de soja de várias regiões gaúchas receberam estações de monitoramento. As novas ferramentas são autônomas, mantidas com energia solar e mandam avisos para o celular.
“Ela é uma armadilha auto-limpante. Funciona até dois meses sem nenhuma intervenção do agrônomo. Atrai as mariposas que são grudadas no piso colante e tem acima dela uma câmera de alta resolução que identifica qual que é a mariposa e manda para o agrônomo o relatório da incidência de pragas”, explica o engenheiro agrônomo Douglas Pedroso.
Ação contra a proliferação de lagartas na soja
As lagartas estão presentes em todas as regiões produtoras de soja do país e as perdas podem ser grandes caso a situação saia do controle. As desfolhadoras, por exemplo, podem levar ao comprometimento de 100% da lavoura. Outras impactam na formação das vagens. Por isso, a ideia da equipe responsável pelo projeto é ser mais uma ferramenta de alerta para que o produtor realize o controle em tempo hábil.
A tecnologia de monitoramento de lepidópteros foi criada por uma startup e implantada pela Rede Técnica Cooperativa, que reúne 13 cooperativas gaúchas. O equipamento é capaz de identificar as lagartas spodoptera como a frugiperda, cosmioides e a spodoptera eridania. E ainda a falsa medideira e a helicoverpa armigera.
“Lagartas pequenas que, muitas vezes, o monitoramento convencional não conseguiria quantificar essa população, recomendar táticas de manejo onde elas vão ser mais assertivas porque nós temos lagartas mais pequenas, que são mais factíveis de controle. Em consequência, essas lagartas provocaram pouco dano na cultura, visto que, dentro do desenvolvimento larval, essas lagartas têm um baixíssimo consumo nos estágios iniciais. A maior quantidade de desfolhamento ou danos nas estruturas reprodutivas são lagartas de maior tamanho”, explica o pesquisador em entomologia Glauber Stürmer, da Cooperativa Central Gaúcha Ltda e da Rede Técnica Cooperativa (CCGL/RTC).
À espera dos primeiros resultados do projeto
O projeto foi validado na safra passada e colocado em prática no ciclo 22/23. Caso os resultados sejam satisfatórios a ideia é expandir para outras culturas. “A ideia é que a gente monitore pragas da soja, mas também utilize essas ferramentas para monitorar pragas no milho”, afirma Stürmer.
“Estamos passando nos últimos anos muita pressão de spodoptera frugiperda, com hábitos de rosca atacando cereais de inverno no processo de implementação, de semeadura da culturas, falando de aveia, trigo com uma alta população. Esses equipamentos também podem nos direcionar para preparar os técnicos dos nossos agricultores para não pegar de surpresa para a chegada dessa praga”, completa o pesquisador em entomologia.
Para o produtor Clóvis, a segurança de aplicar somente quando precisa, gerando economia e cuidado com toda a cadeia produtiva. “Às vezes a gente faz a aplicação de um químico muito forte e quando vê dá outro problema lá na frente. Isso aí ajuda muito para a prevenção. Temos que tentar melhorar cada vez mais tanto na produção, no financeiro e no meio ambiente.”
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