sexta-feira, 24 de abril de 2020

Governo diz que não há dinheiro para reativar economia por meio de investimento público


G1
Por Alexandro Martello


Os secretários de Política Econômica do Ministério da Economia, Adolfo Sachsida, e do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, afirmaram nesta quinta-feira (23) que não há dinheiro para "capitanear" uma retomada da economia por meio de investimentos públicos.

Segundo ele, o plano Pró-Brasil, anunciado nesta quarta-feira pela Casa Civil da Presidência da República, envolve questões de desburocratização e segurança jurídica. "São mecanismos pró-mercado que fortalecem o investimento privado", disse ao G1.

De acordo com o secretário, vários ministérios têm tentado ajudar neste momento de pandemia do novo coronavírus, e o que a Casa Civil está fazendo é "aglutinar" as sugestões que são enviadas.
"Tem algumas questões referentes a dinheiro público, mas mais a um remanejamento dentro dos ministérios. O que era prioridade no começo do ano, hoje a prioridade é outra. Tem de haver um espaço para realocação [devido ao coronavírus e seus impactos]", explicou.

Teto de gastos

Sachsida lembrou que o teto de gastos está mantido pelo governo federal. Pelo mecanismo, as despesas não podem subir acima da inflação do ano anterior.

Em 2020, em razão do coronavírus, o governo está editando créditos extraordinários (que são uma exceção ao teto), mas a área econômica informou que isso não ocorrerá mais a partir de 2021.

Com isso, as despesas voltarão a ficar restritas a partir do ano que vem (incluindo os investimentos públicos), segundo números do projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) - encaminhado na semana passada ao Congresso Nacional.

"O espaço fiscal [para gastos] da economia brasileira é muito mais limitado. Existe um consenso enorme de todos de que o teto dos gastos é o grande pilar macrofiscal da economia brasileira. O teto está mantido. O espaço fiscal não é muito amplo", confirmou o secretário.

Para abrir espaço para mais investimentos públicos, disse ele, é importante avançar com as reformas, como forma de reduzir os gastos obrigatórios. Entre essas reformas, ele aponta a PEC da Emergência Fiscal, que pode reduzir jornada e salário de servidor.

"Temos de diminuir os gastos obrigatórios. Enquanto não formos capazes, vai ser difícil ter crescimento dos investimentos [públicos]", concluiu.

Setor privado
Devido ao cenário de recursos escassos, o secretário avaliou que o aumento dos investimentos na economia brasileira pode ser alcançado "destravando" a agenda de concessões e melhorando marcos legais que permitam ao setor privado elevar seus recursos.

"Temos de manter a agenda do saneamento básico, das telecomunicações, do choque de energia barata [por meio do setor privado]. O que precisa é de segurança jurídica, marco legal que favoreça o investimento privado", acrescentou.

'Plano Marshall'
Questionado sobre a comparação do Pró-Brasil com o plano Marshall, Sachsida afirmou que esse foi um "termo infeliz".

Ele lembrou que o plano Marshall se refere a recursos norte-americanos reconstruindo a Europa após a Segunda Guerra Mundial.

"O dinheiro é para reconstruir em outro lugar. Seria o quê? A ideia básica era uma reconstrução de capital físico. A Europa estava devastada. Não houve uma destruição de capital físico [no Brasil]. Os Estados Unidos detinham a única moeda do mundo que ainda tinha força. Era o monopólio do dólar. Não é o caso do Brasil. Não houve destruição do capital físico", disse.

Sem espaço fiscal
Em teleconferência, também nesta sexta, o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, afirmou que o governo não tem dinheiro para puxar o investimento para a retomada da economia.
Segundo ele, falta espaço fiscal para a retomada do crescimento com dinheiro público.

“É muito claro que [para] a retomada do crescimento do país, a gente vai ter que aumentar muito a taxa de investimento. E é claro que o governo não tem essa força para aumentar muito, para custear o investimento, via investimento público, porque falta espaço fiscal, independentemente de teto, mesmo que não existisse teto de gastos, o governo não teria espaço, para aumentar muito investimento público porque teria que se endividar muito”, afirmou.

Segundo Mansuetto, está claro que a retomada da economia no Brasil vai precisar de investimento privado.

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