segunda-feira, 27 de abril de 2020

Mestre da viola de cocho, Agripino morre aos 101 anos em Corumbá


                                            Foto; Diário Corumbaense


Na cama, com a saúde fragilizada aos 101 anos, mas ainda com disposição a sorrir. Assim era Agripino Soares de Magalhães, que morreu na manhã deste domingo, dia 26 de abril, em Corumbá, mas deixa o legado de ser um mestre. Graças a ele, sobrevivem a viola de cocho, o cururu e o siriri.

“Agripino morreu em casa. Já estava fraquinho e morreu naturalmente, como a vida dele aconteceu. Até à semana passada, quando o visitei, estava deitadinho na cama, mas dando risada”, afirma Márcia Rolon, diretora do Moinho Cultural, instituto onde as artes se encontram em Corumbá.

No decorrer deste ano, mestre Agripino chegou a ser internado algumas vezes, mas sempre voltava para o lar, onde morava com dona Madalena, a esposa.

“É o nosso maior mestre do saber”, afirma Márcia Rolon, rememorando quando aos 14 anos estava entre os bailarinos que aprenderam a dançar cururu e siriri nos passos do mestre Agripino.

“Nós devemos tudo a ele. Foi a primeira vez que ele saiu do comum, que era a cultura de fazenda, e entrou numa academia para ensinar os bailarinos a dançar o folclore. É um ensino que veio exclusivamente dele”, afirma Márcia Rolon.

Outro feito importante para a cultura de Mato Grosso do Sul, graças ao trabalho de mestre Agripino, foi o registro da viola de cocho em 2005 como patrimônio imaterial no Livro de Saberes do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).

Agripino Soares de Magalhães nasceu em 1918, no Mato Grosso. Foram mais de 70 anos de união com Maria Madalena Magalhães. A família tem 12 filhos, sendo seis vivos, e mais de 30 netos e bisnetos.

“Ele morreu de causas naturais, o coração estava cansado e teve insuficiência cardiorrespiratória. Ele foi um pai para mim. Era forte, trabalhador. Ele amava tudo o que fazia. São boas lembranças”, conta a neta Silvia Helena Magalhães Baracat, 33 anos.

Nas recordações, lembra que a fama do avô surgiu em Mato Grosso do Sul, atravessou o Brasil e chegou ao exterior. “Agora no final, colocava siriri para ele escutar e ele se alegrava. A história dele continua”, diz a neta.

Em nota o Governo do Estado lamentou a morte do mestre e ressaltou que Agripino foi um ícone da cultura do Pantanal e de Mato Grosso do Sul. "O centenário cururueiro foi um artista do saber que contribuiu decisivamente para o resgate das manifestações culturais da região, em especial o Banho de São João, onde se apresentava na cerimônia de referência ao santo."

"Sua personalidade marcante e popular e o amor pela arte do lugar não apenas manteve viva uma expressão cultural secular, como motivou os jovens ao aprendizado e confecção da viola artesanal e ganhou o reconhecimento nacional. Seu Agripino deixa uma grande lacuna na cultura sul-mato-grossense", conclui.

Mestre Agripino foi velado na capela Cristo Rei e foi sepultado às 16 horas deste domingo, no cemitério Santa Cruz, ambos em Corumbá.

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