segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Tecnologia aplicada à pecuária de corte e de leite

 

                                                          Divulgação

Avanços permitem monitoramento do animal, novas técnicas de reprodução e respeito ao meio ambiente
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A pecuária no Brasil vem passando por mudanças estruturais, com base numa visão mais empresarial da atividade. O setor é estratégico para o País e movimentou 1,86 milhão de toneladas em 2021, segundo a Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). A produção de leite também vem conquistando importância e alcançou 35,3 bilhões de litros em 2021, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para continuar avançando, o uso da tecnologia tem sido fundamental.


“Em mercados cada vez mais exigentes, sobretudo na precocidade dos animais, na qualidade da carne e na observância dos quesitos socioambientais, os principais pilares da pecuária moderna são a sanidade do rebanho, o bem-estar animal, o respeito ao meio ambiente, o melhoramento genético, o manejo, a nutrição, a gestão de custos e de preços”, diz Cyro Penna Junior, coordenador da Comissão de Bovinocultura de Corte da Federação da Agricultura e Pecuária no Estado de São Paulo (FAESP).


Diante dessas premissas, avalia o coordenador, sobressaem muitas ferramentas tecnológicas, como: a utilização de cultivares com alto potencial produtivo, adubação convencional ou orgânica, controle de ervas daninhas, sistemas de irrigação com baixa pegada hídrica (a água de chuva que fica armazenada na terra), a integração lavoura/pecuária/floresta, genética com ótima aclimatação no clima tropical e alto potencial produtivo, a suplementação customizada e estratégica do rebanho, produção de volumosos (alimentos que estimulam a salivação, mastigação e ruminação do animal) com alta qualidade, a inseminação artificial, ferramentas para comunicação, gestão de custos e de preços de comercialização, entre outros.


No segmento do gado de leite, a tecnologia é uma forte aliada para se alcançar o objetivo de aumentar a produção por área, ou seja, produzir cada vez mais, em uma área menor. Há várias alternativas para otimizar os sistemas de produção. “Por exemplo, o sistema de pastagem rotacionado, que leva em conta o ciclo do capim, é uma opção cada vez mais utilizada”, analisa Wander Bastos, coordenador da Comissão Técnica de Bovinocultura de Leite da FAESP. Nesse método, a área de pastagem é dividida em piquetes, que recebem o gado alternadamente. Assim, se um produtor tem 30 piquetes, a cada dia ele pode colocar os animais em uma área diferente. Quando eles voltam ao piquete inicial, o capim já cumpriu seu ciclo de crescimento, garantindo um nível de proteína elevado para a alimentação.


Conforto do animal


Outro sistema que está presente em muitos estábulos é o free stall, um tipo de confinamento para rebanhos leiteiros que consiste em camas individualizadas, corredores de acesso e pistas de trato. Nesse método de estábulo livre, a vaca tem acesso à alimentação ou ao descanso quando desejar. A temperatura é controlada em cerca de 22 graus e, em algumas regiões, são utilizados até nebulizadores para que o local fique sempre agradável. Essa técnica permite controlar melhor as condições do ambiente, para garantir conforto ao animal e monitorar mais de perto o rebanho, detectando cio, acompanhamento do pré e pós-parto, entre outras situações.


Um método que também aposta no conforto do animal para aumentar a produtividade é o compost barn, formado por um galpão com uma cama grande de compostagem. Ao contrário das baias individualizadas, aqui a cama é comum para todas as vacas. “Essa cama pode ser de matéria orgânica ou pó de serragem, de madeira ou casca de café”, explica Wander. O diferencial é a compostagem que ocorre ao longo do tempo com o material da cama e a matéria orgânica dos dejetos dos animais.


Já o sistema cross ventilation preocupa-se em manter a ventilação, umidade e temperatura dos estábulos sob rigoroso controle, uma vez que o controle desses fatores é capaz de aumentar a vida produtiva da vaca e pode evitar o acometimento de doenças. “Alguns produtores utilizam ventiladores, outros colocam cortinas de água, outros ainda usam exaustores potentes, tudo para circular o ar e derrubar as altas temperaturas, que podem prejudicar o animal”, ensina Wander.


Sistemas automatizados


Os sistemas automatizados também auxiliam os produtores a controlar muitas variáveis que podem afetar o gado leiteiro. “Por meio de ‘colares’ no pescoço da vaca, acoplados com chips, é possível acompanhar e controlar todos os hábitos do animal. A quantidade de alimento pode ser disponibilizada em função do que ela já comeu no dia; quais alimentos ela prefere; o horário da ordenha; se estiver se movimentando pouco, pode estar próxima do parto, enfim, é um monitoramento completo para o criador”, destaca Wander.


Quando se fala em ordenha, os avanços permitem várias opções. Na ordenha mecânica, o leite é retirado por um aparelho que simula a mamada de um bezerro, o que garante rapidez e menor risco de contaminação. Nessa categoria, as ordenhas podem ser: de balde ao pé, em que as vacas são ordenhadas uma de cada vez, por meio de um sistema de vácuo; ou do tipo espinha de peixe, em que ficam dispostas em diagonal em relação ao equipamento de ordenha; ou ainda no formato carrossel, no qual os animais ficam em uma plataforma giratória. Hoje existem até robôs dedicados à ordenha. Wander explica que “é uma espécie de cabine, no qual a vaca entra e vem uma ordenhadeira automática. Os robôs têm autonomia para ordenhar cerca de 70 vacas por dia”.


Técnicas de reprodução


Os estudos genéticos voltados à reprodução animal estão permitindo conquistas impensáveis há alguns anos. “Atualmente, com a possibilidade de genotipar os animais, pode-se escolher o sêmen para gerar animais que se destacam, como um grande touro ou uma novilha que será uma matriz de muito potencial”, exemplifica Luiz Otávio Motta, coordenador adjunto da Comissão de Bovinocultura de Leite. O Brasil é o principal produtor de embriões bovinos pela técnica da Fertilização in Vitro (FIV), hoje uma das mais utilizadas no melhoramento genético. Para ter uma ideia de sua potencialidade, estima-se que a inseminação artificial (IA) permite a obtenção de um bezerro por ano; a transferência clássica de embriões (TE), um por mês; enquanto a FIV é capaz de produzir um bezerro por semana.


Outra técnica empregada é a Inseminação Artificial em Tempo Fixo (IATF), que permite sincronizar a ovulação das fêmeas. Assim, o pecuarista pode ter um grande número de vacas inseminadas, sem que haja a necessidade da observação de seus ciclos naturais. Essa regulação de ciclos é feita com o uso de hormônios específicos, equivalentes aos que são produzidos naturalmente. “O produtor pode escolher suas melhores matrizes para gerar mais bezerros”, aponta Wander.


Sustentabilidade


Mostrando sua capacidade em beneficiar o setor como um todo, os avanços tecnológicos estão permitindo soluções que não apenas trazem mais produtividade, mas agregam sustentabilidade. “Existem fazendas produzindo leite orgânico e, em Itirapina, temos uma propriedade produzindo o leite carbono neutro”, enfatiza Luiz Otavio. Tratar-se de uma parceria entre a Guaraci Agropastoril e a Fazenda da Toca, tradicional produtora de orgânicos. Ali, a produção do leite orgânico está alinhada com o plantio de árvores, promovendo a neutralização do carbono.


O impacto positivo para o meio ambiente – por meio do sequestro de carbono da atmosfera, e o desmatamento zero com manutenção da biodiversidade mínima exigida – são apenas algumas das vantagens proporcionadas pelo uso da tecnologia. “A sustentabilidade na atividade pecuária pode ser traduzida pela melhor remuneração dos profissionais envolvidos na atividade, pelo aumento da produção e da produtividade, custos compatíveis, melhor qualidade da produção e possibilidade de preços mais acessíveis ao consumidor; além da fixação do homem no campo e perenização da cultura sertaneja”, cita Cyro. A sustentabilidade também é o ganho destacado por Luiz Otavio. “Com esses avanços, é possível produzir muito mais, na mesma área, sem a necessidade de desmatar”, enfatiza.


Tendo o domínio completo de informações sobre seu gado, o pecuarista pode tomar decisões mais seguras e eficazes. “Tais ferramentas permitem a ele enxergar melhor o seu negócio. Ele pode analisar suas vantagens competitivas, seus pontos fortes e suas fraquezas, como utilizar os recursos e tecnologias disponíveis na sua região e outras informações que lhe permitem escolher em qual fase atuará dentro do processo produtivo”, elenca Cyro.


Resta saber se o custo dessas inovações tecnológicas as torna acessíveis aos pequenos produtores. “Antes de mais nada, eles necessitam de formação e informação para melhorar o seu processo decisório. Na minha visão, o mais importante não é tão somente o custo, mas sim a relação custo-benefício, ou seja, o retorno final da atividade sobre o total de recursos aplicados em todo o processo produtivo”, responde Cyro.


Para Luiz Otavio, há opções para todos os bolsos e, com a popularização de algumas técnicas, a tendência é a queda nos valores envolvidos. “Os robôs, por exemplo, hoje estão acessíveis aos grandes criadores, mas com o tempo o custo deve baixar, como acontece com todas as inovações, depois que são lançadas”, analisa. Para possibilitar que mais produtores tenham acesso às inovações, ele destaca a importância da atuação da FAESP, buscando a redução de impostos, diminuição dos encargos e aumento dos prazos de financiamento.


O emprego de técnicas modernas na pecuária não é algo uniforme no país, como observa Wander, embora as empresas internacionais de ponta estejam em solo brasileiro. “Podemos dizer que temos aqui uma Índia e uma Bélgica. Temos produtores que ainda usam os métodos rudimentares de produção e temos outros que empregam o que há de mais moderno no mundo. Se o Brasil caminhar para a diminuição da tributação, desonerando os custos para o setor, creio que poderemos avançar muito”, defende Wander.

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