quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Mercado financeiro vê falta de clareza na economia e piora humor com futuro governo Lula

 

Estadão

A falta de clareza nas últimas sinalizações econômicas feitas pela equipe de transição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) começaram a provocar uma piora de humor do mercado financeiro como governo eleito, avaliam economistas e analistas do mercado financeiro. Se na primeira semana havia otimismo com o rumo da nova administração, a leitura dos últimos dias é diferente: o novo governo precisa baixar o tom da campanha e apontar com clareza quais serão os passos na economia, sobretudo na área fiscal.


Nesta quinta-feira, 10, o mercado financeiro teve seu ponto mais alto de estresse com o governo eleito e reagiu muito mal às falas de Lula. Em encontro com aliados, o petista criticou a estabilidade fiscal e defendeu a ampliação de gastos.


Desde a fala de Lula, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores, a B3, opera em forte queda, e o dólar sobe com força. Por volta das 14h30, a moeda norte-americana avançava 3,08%, cotada a R$ 5,3417. O Ibovespa recuava 2,77%, aos 110.439 pontos.



“Quanto mais novo o governo demora para fazer essa transição, mais o mercado vai ficar nervoso” afirma Luciano Sobral, economista-chefe da Neo Investimentos. “O mercado está colocando um preço para esse cenário de mais gasto, sem fonte de financiamento claro.”


Pela manhã, já havia uma preocupação com a informação de que, na equipe de transição petista, ganha força a opção de retirar as despesas do Auxílio Brasil do teto de gastos de forma permanente.


“Hoje, as declarações (do Lula) coroam uma percepção que é de uma mudança dessa linha (mais otimista) da semana passada. Agora, há uma visão de muita preocupação do que vem pela frente”, diz Silvio Campos Neto. “É um movimento (de hoje) que marca uma reversão das expectativas do mercado com o novo governo.”


A grande preocupação é de que a nova administração Lula seja parecida com os últimos anos da gestão Dilma Rousseff, em que houve uma deterioração das contas públicas do País. Durante a campanha, por exemplo, Lula criticou sucessivamente o teto de gastos, mas ainda não indicou qual será a sua política fiscal nos próximos quatro anos.


“Cada vez que os sinais vão na linha de deterioração do gasto, mais o governo precisará sinalizar maior responsabilidade com um ministro mais técnico do que político. E talvez isso nem seja garantia, pois vai depender no final de como será desenhada a nova regra fiscal”, afirma Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados.

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