quinta-feira, 6 de outubro de 2016

“Nosso Fiel Traidor” explora tensões pós-Guerra Fria


No papel de Perry Makepeace, McGregor inicia a história numa viagem ao Marrocos, em que procura recuperar o relacionamento com sua parceira, a advogada Gail Perkins (Naomie Harris). Num restaurante, encontram o estranho Dima (Stellan Skarsgaard), um russo bonachão, que os convida a uma festa em sua vila. Num ambiente luxuoso, repleto de bebidas, mulheres e mafiosos, Dima dá um jeito de aproximar-se de Perry e confiar-lhe um pen drive, que deseja ver entregue ao serviço secreto britânico.

A situação toda parece rocambolesca demais mas, ainda assim, o professor resolve atender ao pedido do russo –que lhe revela ser o lavador de dinheiro número um da máfia russa, capaz de entregar vários segredos interessantes aos britânicos em troca de asilo para ele e sua família.

Se a condução da história leva a perguntar por que Dima escolheu alguém aparentemente tão inocente quanto Perry para uma missão assim arriscada, logo mais o espectador encontrará material mais interessante para alimentar suas dúvidas. Isto acontece quando o professor realmente entra em contato com agentes britânicos, no caso Hector Meredith (Damian Lewis), e aí sim descobre o tamanho da encrenca em que se meteu.

Se este enredo inspirado em Le Carré não tem tanto tempero quanto “O Espião que Sabia Demais”, que rendeu um excepcional filme em 2011, também não faz feio no quesito entretenimento. O ritmo começa meio morno na parte inicial, mas a adrenalina sobe muito a partir da sequência seguinte em Paris, já colocando em funcionamento a negociação dos segredos de Dima e da qual Perry e Gail terão que participar à sua revelia.

Se a diretora britânica Susanna White (“Nanny McPhee e as Lições Mágicas”) não é tão experiente assim no gênero suspense/ação, ela desenvolve bem seus personagens, salientando os ingredientes certos para algumas reversões de expectativas – como é o caso do agente Hector.

Ator experimentado, o sueco Stellan Skarsgaard também revela novas facetas na pele do mafioso arriscando a pele para salvar sua família.

Escritor que inspirou diversas de suas histórias nas tensões da guerra fria, Le Carré atualiza o registro, situando nesta nova as consequências do desmoronamento da antiga URSS e também a corrupção de políticos e homens de negócios britânicos.

Fugindo do maniqueísmo no delineamento destes personagens, o roteiro assinado por Hossein Amini (“Drive”) marca um tento poderoso.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

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