quinta-feira, 6 de outubro de 2016

ESTREIA-“12 Horas para Sobreviver” faz sátira distópica sobre política

 Terceiro filme da série “Uma Noite de Crime” (mesmo não ostentando isso no título), “12 Horas para Sobreviver: O Ano da Eleição” mostra que boas ideias precisam ser reinventadas, ou, ao menos, revigoradas – como é o caso aqui, em que se explicita a dimensão política de um filme que sempre teve um quê de político.
Como nos outros filmes, durante uma noite os crimes estão liberados nessa versão distópica dos EUA. Nesse período, a polícia não tem autoridade e cidadãos comuns têm que se defender por conta própria, podendo matar seus agressores impunemente. É, como diz um personagem, “a festa do Halloween para adultos”. Essa noite de expurgo, como ficou conhecida, atrai até turistas do mundo a essa possibilidade de caçada humana sem culpa ou punição.
O evento deste ano coincide com a campanha eleitoral, em que uma senadora candidata à presidência, Charlie Roan (Elizabeth Mitchell), tem como promessa acabar com essa noite de crimes. Isso faz dela o alvo preferido dos reacionários durante essas 12 horas. Sua esperança de salvação é o sargento Leo Barnes (Frank Grillo, interpretando o único personagem do filme anterior, “Uma noite de crime: Anarquia” mantido nesta sequência).
A série é uma espécie de filme B que deu certo ao materializar o desejo de uma vingança rápida e a espetacularização da violência. A priori, são exatamente esses elementos que James DeMonaco (diretor e roteirista dos três longas) estaria criticando. Mas às vezes, a glorificação de tudo isso sobressai, ainda que de forma involuntária.
A vantagem é que DeMonaco sabe com o que está trabalhando e dá um ar de pulp fiction ao filme, em seus diálogos, ações e enquadramentos. Concentrando-se mais em ação e sanguinolência, transforma o longa num daqueles casos em que o conceito é melhor do que a execução, embora haja muito o que aproveitar aqui.
A potencialização do comentário político do filme está exatamente na espetacularização da violência, tida como solução principal para todos os conflitos.
Ao final, é essa permissão para matar sem qualquer escrúpulo que é a cola dessa nova sociedade norte-americana, que aqui leva o nome de Os Novos Pais Fundadores da América, numa referência aos políticos que participaram da Revolução Americana. O nome indica mais do que uma retomada dos ideais iniciais, um novo país pautado pela violência sem medida, mas apenas por uma noite.
No fundo, essa noite na qual tudo é possível é uma mera desculpa para a higienização social, em que os ricos matam os pobres para “não ter que sustentá-los”, para usar uma expressão recorrente, tanto lá quanto cá. Os ricos do filme participam de uma espécie de missa, pedindo aos deuses da matança para mantê-los ricos. Matar, no conceito desse filme, é mais do que um direito, é uma obrigação civil. A elite vende a noite de expurgo como uma válvula de escape, mas, para continuar com as imagens, talvez seja mais uma panela de pressão prestes a explodir.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)

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