terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

Dólar cai a R$ 5,05 com Brasil mais atrativo após Rússia mandar tropas à Ucrânia

 



FOLHAPRESS


Um dia após a decisão da Rússia de mandar tropas para a Ucrânia ter provocado uma baixa na Bolsa de Valores do Brasil, o mesmo cenário de potencial guerra na Europa resulta em forte recuperação do mercado acionário brasileiro nesta terça (22).


Às 12h30, o Ibovespa subia 1,27%, a 113.148 pontos. Na véspera, o índice de referência da Bolsa caiu 1,02%. O tombo se consolidou no final da tarde, logo após o presidente russo Vladimir Putin ter anunciado o seu passo decisivo na rota de conflito com o país vizinho.


Ameaças de guerra não abalaram a trajetória de valorização do real frente ao dólar, que caía 0,86%, a R$ 5,0540. Mais cedo, a divisa havia recuado à mínima de R$ 5,0490. Caso mantenha esse patamar, a moeda estrangeira encerrará o dia com a menor cotação desde o início de julho. Cabe destacar que a taxa de câmbio também já havia recuado 0,70% nesta segunda (21).


Investidores que já enxergavam o país como alternativa às baixas nas bolsas de economias desenvolvidas, agora, também podem estar avaliando o Brasil como refúgio de potenciais perdas no mercado da Rússia, uma vez que o país pode sofrer sanções econômicas.


Semelhanças entre as duas economias emergentes tendem a posicionar esse fluxo em direção ao Brasil, segundo Pietra Guerra, especialista de ações da Clear Corretora.


"Seríamos alternativa para a retirada de capital da Rússia", diz Guerra. "Pela exposição às commodities [ambos são produtores de petróleo, por exemplo] e alguma similaridade no nível de desenvolvimento econômico", comenta.


Os ganhos mais óbvios no mercado brasileiro em meio à crise geopolítica vêm do petróleo, que subia 1,76% neste início de tarde, cotado a US$ 97,07 (R$ 498,28). Além de estar no seu maior nível de preços desde meados de 2014, analistas afirmam que a commodity romperá os US$ 100.


As ações da Petrobras subiam 0,59%. Os papéis mais negociados da petroleira estatal já subiram quase 19% neste ano.


Mas não é só devido às commodities que o Brasil segue em evidência. O pacote de atrativos também considera um real ainda desvalorizado frente ao dólar, ações baratas na Bolsa, e especialmente uma taxa básica de juros (Selic) muito alta em relação às principais economias globais.


A taxa de juros do Brasil é de 10,75% ao ano, com expectativa de superar 12% ainda em 2022. Como a inflação prevista para o país está na casa de 5,5% para este ano, a diferença entre esses dois indicadores proporciona ganhos elevados com aplicações financeiras.


Nos Estados Unidos, onde a inflação na casa de 7% ao ano é a maior em quatro décadas, os juros permanecem perto de zero e só devem iniciar uma elevação gradual a partir do próximo mês.


Enquanto aguardam condições mais favoráveis no exterior, investidores podem estar tomando crédito barato no exterior para aplicar na Bolsa e no mercado financeiro brasileiro como um todo. É o que no jargão dos negócios costuma ser chamado de "carry trade".


O índice da agência Bloomberg que acompanha esse tipo de negócio aponta alta de 5% neste ano, considerando o movimento global do dinheiro rumo a economias menos desenvolvidas.


O mercado acionário brasileiro acumula saldo positivo no fluxo de capital de investidores estrangeiros acima de R$ 50 bilhões neste ano, segundo dados da B3, a Bolsa de Valores do Brasil.


Nos Estados Unidos, os principais indicadores operavam mistos após o fechamento das bolsas na véspera devido ao feriado nacional do Dia dos Presidentes.


Referência do mercado americano, o S&P 500 rondava a estabilidade. O indicador da bolsa de tecnologia Nasdaq subia 0,28%. O Dow Jones, índice que reúne as empresas de maior valor com ações negociadas em Nova York, recuava 0,33%.

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