segunda-feira, 4 de julho de 2022

Cardeal d. Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, morre aos 87 anos

 

                                          © Gabriela Biló/Estadão - 


Arcebispo emérito de São Paulo, o cardeal d. Cláudio Hummes morreu aos 87 anos na manhã desta segunda-feira, 4. Nome forte na Igreja Católica, foi bastante próximo do papa Francisco e até cotado para assumir o posto mais alto do Vaticano anos atrás. Mais recentemente, liderou o Sínodo da Amazônia e era engajado em temas ligados à floresta e na defesa de mudanças para combater a crise climática. "A Terra não aguenta mais", chegou a declarar.


O corpo será velado na Catedral Metropolitana de São Paulo, onde serão celebradas missas. Os horários serão divulgados em breve. Segundo a Arquidiocese de São Paulo, D. Cláudio Hummes morreu após “prolongada enfermidade”.


Gaúcho de Salvador do Sul, ingressou na Ordem Franciscana dos Frades Menores aos 17 anos, tendo passado pelas ordenações sacerdotal e episcopal respectivamente em 1958 e 1975. Foi arcebispo de São Paulo e Fortaleza e bispo de Santo André. Quando ocupou o cargo no ABC paulista, desafiou o regime militar e abriu as portas das igrejas da região para os trabalhadores em greve no fim da década de 1970 e início dos anos 1980.


Em 2013, o próprio papa Francisco atribuiu a ele a inspiração para a escolha do nome que Jorge Bergoglio usaria à frente da Igreja. Segundo o argentino disse a jornalista, quando ficou claro que o argentino seria escolhido pelo conclave, Hummes disse ao amigo: “Não se esqueça dos pobres”. Ao ouvir as palavras do cardeal e amigo brasileiro, o pontífice pensou em São Francisco de Assis, conhecido pela defesa dos pobres.


Naquele ano, falou sobre a importância da escolha de um latinoamericano como papa. "Eles fizeram isso, os cardeais. Dentro de um dia e meio, fizeram essa revolução. A mídia do mundo inteiro ficou surpresa", declarou


m 2019, foi relator geral da Assembleia Especial do Sínodo para a Igreja Católica na Amazônia, realizada pelo Vaticano de 6 a 27 de outubro. Na época, o cardeal também presidia a Rede Eclesial Pan-Amazônica (Repam) e a Comissão Pastoral para a Amazônia da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). "A vida na Amazônia talvez nunca tenha estado tão ameaçada como hoje", declarou no início do evento.


À epoca, o religioso citou a Amazônia 29 vezes ao longo da fala, na qual destacou que a floresta corre riscos "pela destruição e exploração ambiental, pela violação sistemática dos direitos humanos elementares da população amazônica, de modo especial a violação dos direitos dos povos indígenas, como o direito ao território, à autodeterminação, à demarcação dos territórios e à consulta e ao consentimento prévios".


Ele também mencionou o "contexto de uma grave e urgente crise climática e ecológica que atinge todo o nosso planeta". "O aquecimento global, pelo efeito estufa, gerou uma crise climática sem precedentes, grave e urgente", declarou. "Ao mesmo tempo, ocorre no planeta uma devastação, depredação e degradação galopante dos recursos da terra, promovidas por um paradigma tecnocrático globalizado, predatório e devastador", continou. "A Terra não aguenta mais."


A atuação por mudanças sociais também foi uma marca na trajetória do arcebispo. Também em 2019, abriu a cerimônia de renovação do histórico Pacto das Catacumbas, em que a Igreja assume sua opção preferencial pelos pobres, com críticas à ganância por bens materiais: “Todas as grandes maldades do mundo são por causa do dinheiro; é a corrupção, é o roubo, guerras, conflitos, são mentiras. Tudo para juntar dinheiro, para ganhar dinheiro às custas de qualquer coisa. O dinheiro é o grande inimigo de Jesus, pois você não pode servir a Deus e ao dinheiro.”


Na cerimônia, Hummes usava uma estola que pertenceu ao arcebispo brasileiro d. Helder Câmara, também ligado a causaas sociais. “É uma relíquia e eu me sinto muito emocionado por estar usando”, disse à época. “A figura de dom Hélder no Vaticano 2.º recordando sempre que a Igreja não pode se esquecer dos pobres.”


Em entrevista ao Estadão, em 2019, disse que a Igreja não tem lado político e defendeu causas sociais, como dos povos indígenas. “Os direitos humanos devem ser aceitos por todos”, ressaltou.


Além disso, abordou a necessidade de ações contra as mudanças climáticas e comentou sobre a impunidade de quem comete crimes contra a Amazônia. "A opinião pública, a sociedade civil, tem que ser alimentada para que possamos ser um País que assume responsabilidades, responsabilidades históricas, pelo planeta", declarou.


O arcebispo também trabalhou de 2006 a 2011 ao lado do Papa Bento XVI, em Roma, como prefeito da Congregação para o Clero. Durante anos, escreveu artigos periodicamente para o Estadão, cuja seleção de 110 textos foi reunida no livro Diálogo com a Cidade (da editora Paulus).


Em nota, o cardeal d. Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo, pediu preces em “agradecimento pela vida operosa do falecido Cardeal Humme”. “Deus acolha em suas moradas eternas nosso irmão falecido, cardeal Cláudio Hummes, e faça brilhar para ele a luz eterna.”


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