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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020
Vencedora do Oscar de roteiro adaptado JOJO RABBIT
Jojo Rabbit
Cine Web
Ficha técnica
Nome: Jojo Rabbit
Nome Original: Jojo Rabbit
Cor filmagem: Colorida
Origem: República Tcheca
Ano de produção: 2019
Gênero: Histórico, Drama, Comédia
Duração: 108 min
Classificação: 14 anos
Direção: Taika Waititi
Elenco: Roman Griffin Davis, Scarlett Johansson, Sam Rockwell, Taika Waititi
Num primeiro momento, Jojo Rabbit pode parecer um filme transgressor, uma sátira política situada nos últimos dias da Alemanha nazista, escrachando com Hitler. Pode, também, parecer um comentário sobre a cegueira política de nosso tempo. Não são mesmo poucas as aspirações para o filme do neo-zelandês Taika Waititi (Thor: Ragnarok), mas cada uma se revela mais fora de lugar do que a outra.
Livremente inspirado no romance O céu que nos oprime, de Christine Leunens, Jojo Rabbit é como se Wes Anderson fizesse um filme ruim situado no Terceiro Reich. Todos aqueles tons pastel, a atmosfera melancolicamente lúdica, as crianças precoces, mas incapazes de superar sua ingenuidade, entre outras coisas. Mas os objetivos aqui são outros. Mas a troco de quê? As intenções de Waititi são bastante claras, de ridicularizar Hitler (interpretado por ele mesmo) e todos aqueles que ainda o apoiavam, mesmo com a derrocada gritante e iminente.
Johannes (Roman Griffin Davis) é uma criança desajeitada que vive com a mãe, Rosie (Scarlett Johansson), numa cidade pequena da Alemanha, enquanto o pai está no front de batalha. Ele é uma dessas pessoas que creem piamente no regime nazista, culpa de sua inocência juvenil. Num espécie de acampamento de férias para criancinhas nazistas, ele irá passar por grandes provações e provocações e se sair mal, rendendo-lhe cicatrizes no rosto, uma perna manca e o apelido Jojo Rabbit (referente a coelho, um bichinho medroso).
Em casa, as coisas são diferentes. A mãe é totalmente contrária ao nazismo, embora, é claro, precise fingir que apoia Hitler e tudo mais. A ausência de uma figura paterna em cena leva pequeno Jojo a criar o amigo imaginário – uma versão bufa do führer, que aparece de uma forma estupidamente infantilizada e atende pelo nome de Adolph. O efeito cômico é evidente, mas também cansativo, uma vez que não sai disso ao longo do filme inteiro. Pode parecer algo arriscado, mas Waititi está jogando para a plateia e sabe exatamente como fazer rir, como fazer chorar e como fazer ter ódio dos nazistas (para isso nem precisa se esforçar muito).
Depois do acidente com o garoto, sem ter outra opção, enquanto trabalha, Rosie deixa Jojo numa repartição militar, aos cuidados do capitão Klenzendor (Sam Rockwell, como sempre excelente), um dos responsáveis pelo acidente do menino. O cenário é, novamente, uma desculpa para Waititi ridicularizar o que é facilmente ridicularizável, como na relação dúbia do militar com seu subalterno (Alfie Allen) ou na figura da assistente (Rebel Wilson), como uma estereotipada versão de uma Fräulein.
Jojo é o herói do filme, e este é sobre a jornada dele e sua transformação vem quando descobre em casa uma garota judia, Elsa (Thomasin McKenzie), a quem a mãe esconde. O encontro é por acaso, e resultado tenso: o menino não pode denunciá-la à SS, pois isso também implicaria na prisão de sua mãe. O filme não está muito interessado em lidar com esse dilema moral e tudo se resolve de maneira simples e previsível: o garoto não só a protege, como também desenvolve uma paixão platônica pela “inimiga”.
As conversas entre Jojo e Elsa, quando Rosie não está em casa, tendem a transformar o nazismo apenas numa moda passageira que não era legal, ou seja, algo quase inofensivo, destituindo o filme dos horrores de uma guerra. Interessado em efeitos cômicos e lágrimas baratas, Waititi joga de lado a complexidade e implicação política do período em favor de algo questionável à lá, digamos, O menino do pijama listrado ou A vida é bela. Jojo Rabbit é um filme desesperado para agradar quando deveria questionar as ideologias. O diretor, afinal, se saiu bem em seu propósito – tanto que, além de ganhar prêmio de público em Toronto, recebeu seis indicações ao Oscar, vencendo apenas na categoria melhor roteiro adaptado.
Curiosamente, tudo o que falta ao longa, está na interpretação de Johansson – merecidamente indicada ao Oscar. Rosie é uma personagem complexa, repleta de nuances, que precisa dançar conforme a música fora de casa para sobreviver. Só no interior de seu lar pode ser sincera consigo mesma – mas não muito: seu filho é um membro devotado da juventude hitlerista, e nem a ele ela pode revelar suas verdadeiras crenças. Rosie não faz isso apenas por medo do garoto, é óbvio, mas também com a intenção de o proteger. A atuação de Scarlett gera um desconforto necessário dentro de um filme que, equivocadamente, quer ser fofo.
Alysson Oliveira
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