quinta-feira, 25 de maio de 2017

ESTREIA–Drama policial “Comeback” traz última participação do ator Nelson Xavier



Drama policial que marca a estreia na direção de longas do diretor goiano Erico Rassi, o policial “Comeback – um matador nunca se aposenta” tira proveito da presença do ator Nelson Xavier como seu protagonista de uma forma orgânica e visceral.

Em se tratando do grande ator que era esse intérprete refinado, que morreu aos 75 anos no dia 10 de maio, isso é apenas natural.

Premiado como melhor ator no Festival do Rio 2016 por este filme, Xavier é também lembrado por grandes atuações de sua carreira, como “Os Fuzis” e “A Queda”, de Ruy Guerra, “Dona Flor e seus Dois Maridos”, de Bruno Barreto, “Narradores de Javé”, de Eliane Caffé, e “Chico Xavier”, de Daniel Filho.

Em “Comeback...”, Xavier empresta seu corpo, seu semblante e até sua história pessoal recente ao personagem Amador, um matador profissional envelhecido e colocado fora de circulação. Até a metade, o filme é quase um estudo de personagem. Depois é que parte para uma virada, como que para justificar sua velha fama.

Rodado em Goiás, o filme tem um ar retrô, que reflete a decadência de Amador, outrora um assassino temido e vaidoso, capaz de colecionar num velho álbum as reportagens que dão conta das muitas mortes que cometeu. Mas o tempo passou, a saúde não é mais a mesma nem os interesses de seu patrão (Gê Martú). Hoje, o chefe enriquecido prefere outros negócios, como um restaurante e também a exploração de máquinas caça-níqueis em bares.

Abatido, Amador tenta adaptar-se aos novos tempos, tornando-se agenciador destas máquinas, ao lado de um jovem admirador, parente de um amigo, que deseja tornar-se aprendiz de suas artes de morte (Marcos de Andrade).

Alguns dos melhores momentos do drama acontecem quando contracenam os dois veteranos do elenco, Xavier e Everaldo Pontes, no papel de um ex-matador que termina seus dias num hospital, sem querer abrir mão da bebida nem do cigarro. São como dois velhos pistoleiros de faroeste lembrando dos passados dias de valentia, quando inspiravam medo e respeito.

A breve visita de Amador a um baile da terceira idade é mais um lembrete do quanto ele não desenvolveu nenhuma forma de convivência normal. Também por isso, a solidão é sua maneira de existir.

Muito do dilema de Amador se passa internamente e não se poderia dispor de ator melhor do que Xavier para dar conta disso. Seu próprio rosto abatido pelo enfrentamento da doença, na vida real, contribui para dar uma dimensão ainda maior a esse personagem que parece não ter mais nada a esperar, nem a perder, mas ainda quer sentir-se vivo.

No roteiro, também de autoria do diretor, não parece tão bem-resolvida a participação de dois cineastas (Eucir de Souza e Sérgio Sartório), que se aproximam do matador para colher dele informações para um futuro filme. Parece muito pouco provável que um personagem assim clandestino fosse se abrir dessa forma a dois desconhecidos – por mais que ele esteja, no fim da vida, em busca de um reconhecimento impossível.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)

* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb

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