segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Manoel Carlos reconta a história de Maysa em minissérie rebuscada

A minissérie Maysa - Quando Fala o Coração é uma exaltação ao eterno
feminino. Diante da voz grave, dos altos e baixos de uma carreira
internacionalmente bem-sucedida, um casamento fracassado, intensas
paixões e da rejeição aos bons modos e costumes de décadas passadas, o
diretor Jayme Monjardim não homenageia apenas sua mãe Maysa nesta
produção.

Aliado ao texto de Manoel Carlos, cria principalmente uma
identificação com uma pluralidade de mulheres vanguardistas, que
sempre conciliaram e lutaram por carreiras, amores, combateram
preconceitos e chegaram a queimar sutiãs em fogueiras. Cada negativa
da personagem às tradições da família quatrocentona do marido André
Matarazzo, de Eduardo Sermejian, identifica sua personalidade à frente
de seu tempo.

A atitude libertária está presente em cada enquadramento com close, em
cada diálogo, em cada densidade do olhar sôfrego e da voz rouca da
personagem, impecavelmente interpretada pela estreante na TV, Larissa
Maciel.

Com uma dedicação explícita, a atriz despiu-se de cada véu ao
apresentar o comportamento intempestivo da cantora - antes exaltada
principalmente pelas canções de fossa -, e traduziu toda sua
impetuosidade numa releitura admirável. Com uma interpretação
ajustada, sob medida para os altos e baixos de Maysa.

O mergulho no material mais íntimo da cantora, como seus diários,
permitiu uma composição intensa, refletida em cenas de quase simbiose
entre a atriz e a personagem em gestos e trejeitos.

Mérito também da cuidadosa caracterização de Fernando Torquato. Diante
das minúcias da produção, como detalhes de produção de arte, figurino
e cenografia, o zelo na reconstituição de cada década foi feito com o
mesmo esmero com o qual as locações foram escolhidas, como o Palácio
Guanabara e o Hotel Copacabana Palace, no Rio de Janeiro, o Hotel
Quitandinha, em Petrópolis, e a própria casa da cantora em Maricá, na
Região dos Lagos fluminense, entre outros.

Uma profusão de cenas externas trouxe a credibilidade necessária à
história, que estreou com a satisfatória média de 30 de audiência com
46% de participação. Mérito principalmente de Manoel Carlos, que com
seu roteiro nada linear da trajetória de Maysa, suas idas e vindas
cronológicas no folhetim, permitiram um dinamismo que não chegou a
cair num enfadonho didatismo.

Nem mesmo na narração da trama pela protagonista e na inserção de
frases e pensamentos da própria cantora nos diálogos. Mas o que salta
aos olhos é o saudosismo de tons quentes de Jayme Monjardim, que
mesclou sua direção com as pinceladas de cores fortes da direção de
fotografia do craque Affonso Beato.

Destaque para as seqüências na Europa, as inserções de imagens e a
exaltação dos matizes cálidos para destacar o período de êxito da
carreira da cantora. Da mesma forma, para marcar com sensibilidade sua
decadência ao rodar as cenas de declínio de Maysa, evidenciando os
tons pastéis nessas tomadas. Nesta gangorra de emoções, algumas
atuações estreantes se destacam.

É o caso de Eduardo Semerjian, por exemplo, como o contido e
apaixonado aristocrata André Matarazzo. Ou mesmo uma das maiores
paixões da vida da cantora, o compositor Ronaldo Bôscoli, vivido por
Mateus Solano. Tudo embalado por uma trilha sonora de gravações
originais da cantora, com canções conhecidas na voz de Maysa, como Ne
Me Quitte Pas, Ouça e Meu Mundo Caiu, entre outras.

Fonte;TV Press

Nenhum comentário: