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quinta-feira, 13 de junho de 2019
Filme : Dor e Glória com Antonio Bandeiras
De muitas maneiras, o novo filme de Pedro Almodóvar, Dor e Glória, é uma volta - ao melodrama, particularmente, que é um gênero que definitivamente domina, com uma contenção adquirida na maturidade. Ficaram para trás as comédias descabeladas da juventude, tipo Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos. Este novo filme dialoga com o clima de Fale com Ela ou Tudo sobre Minha Mãe, a partir do ponto de vista de um protagonista masculino, Salvador Mallo (Antonio Banderas).
O fato de o personagem ser um cineasta sinaliza para um exercício de autobiografia - e outras referências aparecem pelo caminho. Que seja interpretado por um dos atores-fetiche da carreira do mais famoso cineasta espanhol é outra pista de que Almodóvar olhou para o longo passado percorrido, rearrumou as cartas do baralho e jogou de novo, com segurança, paixão, injetando sangue novo em território conhecido.
Muito levianamente, alguns podem dizer que é mais do mesmo, mas é imprescindível observar que um mestre como Almodóvar não é sempre bem-sucedido e há algum tempo ele não acertava tanto quanto aqui. Seus longas mais recentes - como A Pele que Habito, Os Amantes Passageiros e Julieta - não alcançaram o mesmo brilho do passado. Na véspera dos 70 anos, que completa em setembro, Almodóvar parece ter feito um olho no olho com toda a sua carreira e até com dramas pessoais, dele e de Banderas.
Pululam na trajetória do protagonista de Dor e Glória referências a problemas de saúde penosos, que remetem a males que acometeram na vida real tanto Almodóvar (dor nas costas) quanto Banderas (coração e suspeita de tumor). O ressurgimento de uma figura forte de mãe - na juventude, interpretada por Penélope Cruz, na velhice, por Julieta Serrano - recolocam um relacionamento que já surgiu, de maneira muito feliz, em diversos filmes do diretor. Mas há frescor na forma como tudo isto é retomado, coberto pelo verniz colorido da ficção.
Aqui, Almodóvar retoma suas cores intensas, seja nos cenários, seja nos figurinos, seja na temperatura das paixões do passado, que assolam a memória de Salvador, um cineasta de sucesso que se recolheu da vida social, abatido por seus problemas físicos e uma depressão. A comemoração do aniversário de um de seus antigos sucessos leva-o ao encontro de seu ator, Alberto Crespo (o magnético Asier Etxeandial), com quem teve um atrito e há anos não fala - mais uma vez lembrando as brigas de Almodóvar e alguns de seus intérpretes. Mas quem nunca?
Há um tom de reconciliação ao longo de Dor e Glória, que explora alguns caminhos, levando também a um antigo amor do passado de Salvador, Federico (o argentino Leonardo Sbaraglia). E também há afetos platônicos, como a fiel amiga do cineasta, Mercedes (Nora Navas), exercitando a vocação do filme para falar de afetos múltiplos, dentro e fora da família, procurando estabelecer os limites de alguma verdade. Afinal, na maturidade, o que mais se pode querer do que ser fiel a si mesmo?
Almodóvar frequentou várias vezes o Festival de Cannes, concorrendo à Palma cinco vezes, mas nunca levando o prêmio maior - só direção, em 1999, por Tudo sobre Minha Mãe, e roteiro, em 2006, por Volver (que também deu o troféu de melhor atriz a Penélope Cruz). Este ano, mais uma vez não levou. Em compensação, Banderas ficou com o troféu de melhor ator, contemplando uma interpretação visceral como há muito, também, ele não atingia.
Neusa Barbosa
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