sexta-feira, 28 de junho de 2019

Turma da Mônica Laços - O Filme


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Turma da Mônica – Laços é um objeto estranho no cinema brasileiro. Depois de décadas fazendo a alegria de gerações de crianças e adultos em forma de desenho – seja no papel ou animado –, os personagens icônicos criados por Maurício de Souza ganham atrizes e atores para os interpretar nesse longa dirigido por Daniel Rezende (Bingo). Há, de cara, um estranhamento, embora o quarteto mirim seja bastante competente. Eles não são exatamente como há quase seis décadas vemos Mônica, Cebolinha, Magali e Cascão. Ufa! Seria estranho demais se as crianças de carne e osso fossem iguaizinhas aos desenhados.

Superado o estranhamento inicial, o longa, roteirizado por Thiago Dottori, flui que é uma beleza. Ainda assim, é preciso deixar a nostalgia do lado de fora do cinema. Turma da Mônica – Laços é baseado numa HQ específica, homônima, lançada em 2013, e de autoria de Vitor e Lu Cafaggi. Ou seja, muito daquilo que se conhece de Mônica e companhia está levemente diferente na tela do cinema. A primeira coisa que chama a atenção é o tom mais para o sentimental do que para o cômico. A picardia típica dos gibis avulsos, com um humor sagaz, fica de fora. Não que não haja tiradas engraçadas, até existem, mas estão longe de ser o centro das atenções.

Ainda assim, Laços tem bastante a oferecer ao público – seja infantil, no calor da descoberta, ou adulto, com um histórico de apego de mais longa data. O centro da trama é o sequestro de Floquinho, o cachorro verde de Cebolinha (Kevin Vechiatto). Mônica (Giulia Benite), Magali (Laura Rauseo) e Cascão (Gabriel Moreira) se unem para encontrar o mascote. O filme deixa de lado os flashbacks que contam as origens das amizades, e concentra-se numa trama mais direta de aventura e algumas lições de vida sobre o processo de amadurecimento.

Se o filme conquista, depois dos primeiros minutos, é especialmente por conta do quarteto infantil, que, mais do que a aparência (há, claro, os traços marcantes de cada personagem, mas sem o exagero dos quadrinhos originais), encarna bem a psicologia de cada um. Há, no entanto, algo um tanto anacrônico na trama. Numa época em que franquias se esforçam para, em sintonia com o nosso tempo, criar protagonistas femininas, Laços coloca Mônica em segundo plano, dando mais espaço a Cebolinha. É uma pena que uma HQ que, ao seu modo, estava à frente do tempo com o protagonismo feminino subverta isso. Mas, um possível sucesso dessa adaptação pode garantir um segundo filme, que poderá colocar a dona do coelho Sansão no seu devido lugar.
Alysson Oliveira

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