quinta-feira, 22 de março de 2018

Lateral sonha com chance de levar MS de volta à Copa após 24 anos


                                        Em todas as suas férias, o lateral volta à sua Angélica para doar alimentos à população carentes

Por RAFAEL RIBEIRO  Portal Correio do Estado


Quebrar um jejum de 24 anos e fazer Mato Grosso do Sul voltar a ter um jogador no elenco que representará a seleção brasileira em uma Copa do Mundo. Esse é o sonho do lateral-esquerdo Ismaily, do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia, grande surpresa da convocação do técnico Tite para os dois últimos amistosos da equipe antes do Mundial. O primeiro compromisso é nesta sexta-feira (23), justamente contra a Rússia, às 12h (de MS). Na terça-feira (27), acontece a esperada revanche contra a Alemanha.

Até hoje, o único sul-mato-grossense a jogar uma Copa pela seleção foi Muller. Tetracampeão em 1994, nos EUA, o então atacante do São Paulo jogou também os torneios de 1986, no México, e 1990, na Itália. Campo-grandense, abriu a história dos craques locais com a amarelinha, apesar de nunca ter jogado profissionalmente em um clube do Estado.  

Teoricamente a quarta opção para a posição, Ismaily, nascido em Angélica, mas criado e formado em Ivinhema, onde conquistou o título do Estadual de 2008 como atacante,chega à fase final de preparação para o Mundial por conta das contusões de Felipe Luís, do Atlético de Madrid (Espanha), e Alex Sandro , da Juventus (Itália), consideradas as primeiras escolhas de Tite para a reserva imediata de Marcelo, do Real Madrid (Espanha), titular incontestável do time.

"Eu sou de uma cidade muito pequena de Mato grosso do Sul. E quando acontece algo desse tipo (convocação de um nascido no local para a seleção) vira o assunto por dias", disse o lateral-esquerdo, em entrevista à CBF TV. "Eu achava difícil ser convocado, a concorrência é muito grande", admitiu.

Mas a oportunidade veio. E há a chance de ser definitiva. Felipe Luís sofreu uma fratura na fíbula da perna esquerda, tem previsão de volta aos treinos em seis meses e já está praticamente descartado da Copa. Alex Sandro, que sofreu uma lesão muscular na coxa direita durante o treino da última segunda-feira (19), a princípio não preocupa para a Copa.

"Eu estava treinando no Shakhtar e recebi essa notícia maravilhosa. Infelizmente foi pela lesão de um companheiro, mas estou muito feliz de receber essa oportunidade", disse o lateral.

FRANGO QUEIMADO

Se o lateral treinava na Ucrânia quando Tite fez o anúncio, em Angélica o fuso horário calhou de ser na hora do almoço. E o surpreendente anúncio, visto pela televisão, estragou a refeição da família. Em entrevista à ESPN Brasil, a mãe do jogador, Pacélia Maria Gonçalves, disse que comemorou tanto que esqueceu do frango caipira que cozinhava. "Queimou tudo", disse.

Nem mesmo os pais de Ismaily acreditavam que ainda veriam o filho com a amarelinha. Mesmo assim, segundo Pacélia, convenceram ele a não aceitar o convite para atuar pela Ucrânia, onde joga desde 2013, após passagem pelo futebol português.


A tática para convencimento foi fácil. Quando ainda sonhava em virar profissional, Ismaily fez um teste no time do seu coração, justamente o São Paulo de Muller, em 2007, mas acabou reprovado.

"Ele é são-paulino e ficou um pouco chateado por não ter passado, mas só por ter conhecido o Morumbi já voltou radiante. Para você ter uma noção, ele trouxe umas pedrinhas do estádio e acho que as guarda até hoje. Ficou um tempão falando que tinha ido lá e estava muito feliz", disse Pacélia.

NOME


A primeira reação da maioria dos torcedores após o anúncio de Tite foi estranhar o nome incomum de Ismaily. Pacélia revela a inspitação: um filme de 1956. 'Smiley', do diretor Anthony Kimmins, retrata a vida de um garoto pobre que vence as dificuldades do dia a dia, incluindo um pai alcóolatra. O personagem-título da película foi interpretado pelo australiano Colin Petersen, na época um dos mais promissores atores mirins e que depois ganhou notoriedade por estar na primeira formação da banda Bee Gees, nos anos 1960.

"Meu marido jogava futebol profissional no Mato Grosso do Sul e treinava de manhã. Depois do almoço, ele ficava em casa vendo a Sessão da Tarde (conhecido programa de filmes da TV). Eu estava grávida de sete meses e não fiz ultrassom para ver o sexo. Queria ter essa surpresa", disse Pacélia, que não esconde a surpresa de quandio foi informada da escolha.

"Um dia, cheguei do trabalho e ele me disse: 'Olha, se for menino nós já temos um nome. Eu vi um filme muito lindo e o nome do gurizinho é Smile. Achei tão esquisito e diferente", contou Pacélia, rindo. "O garoto do filme era muito pobre e juntava coisas para comprar uma bicicleta. E era muito levado, mas o nosso Ismaily é totalmente diferente (risos). Ele sempre foi bem responsável e nunca nos deu trabalho. Se sentia alguma coisa, não falava. Ele não é de conversa e é muito tímido desde criança", justificou a mamãe coruja.

Mais velho de três irmãos, o pequeno angeliquense mostrava desde cedo aptidão com a bola nos pés. Valia muito a experiência do pai, Valdior dos Santos, o Didi, que fez carreira no futebol do Estado como atacante, mesma posição escolhida pelo herdeiro.

"Quando vim para a Europa, tive condições de aprimorar meu futebol. E aos poucos os treinadores foram me afastando mais do ataque, principalmente no meio e volante. O torcedor pode ficar tranquilo que sei ter empenho defensivo e atacante, quando necessário", disse o lateral.

Polivalência que enche Didi de orgulho depois da tempestade no início da carreira, quando Ismaily teve de conciliar a carreira de jogador com outros empregos, necessários para complementar a renda. Hoje,. o filho mais simbólico de Angélica faz questão de retribuir, ajudando comunidades e bairros carentes da cidade com doações

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