quinta-feira, 20 de junho de 2024

Lula questiona autonomia do BC um dia após Copom interromper queda de juros

 

                                            Ricardo Moraes/REUTERS


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) criticou nesta quinta-feira (20) a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central de manter a taxa básica de juros, a Selic, em 10,5% ao ano. Ele questionou a autonomia do órgão e afirmou que a decisão atendeu a especuladores.


"O presidente da República nunca se mete nas decisões do Copom ou do Banco Central. O [ex-presidente do BC Henrique] Meirelles tinha autonomia comigo tanto quanto tem esse rapaz de hoje. Só que o Meirelles eu tinha o poder de tirar, como o Fernando Henrique Cardoso tirou tantos, como outros presidentes tiraram tantos", disse Lula, em entrevista à rádio Verdinha, de Fortaleza (CE).


"Resolveram entender que era importante alguém que tivesse autonomia. Autonomia de quem? Autonomia de quem para servir? Autonomia para atender [a] quem? Eu estava numa reunião discutindo que nós temos a possibilidade de ter um déficit de R$ 30 bilhões, R$ 40 bilhões. Aí eu fico olhando do outro lado da folha que me apresenta, só de juros no ano passado foi de R$ 790 bilhões que a gente pagou. Só de desoneração foram R$ 536 bilhões que a gente deixou de receber."


Lula afirmou que a decisão atendeu a "especuladores que ganham dinheiro com os juros".


"Quando a gente faz uma coisa e aquilo resulta num benefício coletivo, aquilo é um investimento extraordinário que estamos fazendo. Estamos investindo no povo brasileiro. A decisão do Banco Central foi investir no sistema financeiro, nos especuladores que ganham dinheiro com os juros. E nós queremos investir na produção", afirmou.


"Foi uma pena, porque quem está perdendo com isso é o povo brasileiro. Porque, quanto mais a gente pagar de juros, menos temos dinheiro para investir aqui dentro. Não vejo mercado falar dos moradores de rua, catador de papel, desempregado. Eu não vejo o mercado falar das pessoas que necessitam do Estado."


O presidente afirmou na entrevista que quer fazer "gasto de qualidade com o povo brasileiro".


"Não quero gastar o que eu não tenho. Quero fazer gasto que seja necessário. Pagar salário para o povo é necessário. Melhorar o gasto da saúde é necessário. Melhorar a qualidade da educação é necessário."


Ele também criticou a ausência de pagamento de imposto de renda sobre dividendos, bem como reafirmou a promessa de isentar da taxa pessoas que recebam até cinco salários mínimos.



Italo Nogueira

Folha de São Paulo

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