O presidente eleito Donald Trump anunciou nesta terça-feira que o bilionário Elon Musk chefiará o Departamento de "Eficiência Governamental" dos EUA, apelidado de "DOGE". O cargo inaugura um posto inédito no Gabinete presidencial e se soma a uma série de nomes controversos divulgados esta semana.
O dono da SpaceX foi um dos principais apoiadores da campanha republicana neste ano e a sua participação na Casa Branca em um eventual governo trumpista já havia sido indicada numa live entre os dois na rede social X, adquirida por Musk em 2022. Na ocasião, o magnata exaltou a demissão em massa feita por Musk após a compra da empresa como uma das suas qualidades para um eventual cargo no governo.
Musk comandará a pasta ao lado do também empresário Vivek Ramaswamy, que chegou a disputar as primárias do Partido Republicano contra Trump este ano, mas abandonou a disputa no início. Bilionário do setor de biotecnologia, Ramaswamy é filhos de imigrantes indianos e se posicionou contrário a qualquer tipo de imigração irregular.
Durante o anúncio, feito pelo presidente eleito em comunicado à imprensa, Trump disse que eles permitirão o desmantelamento da "burocracia do governo".
"Juntos, esses dois americanos maravilhosos abrirão o caminho para que minha administração desmantele a burocracia do governo, reduza o excesso de regulamentações, corte gastos desnecessários e reestruture as agências federais”, disse Trump. “Isso provocará ondas de choque em todo o sistema e em todos os envolvidos no desperdício do governo, que são muitas pessoas!”
Antes mesmo da oficialização de Musk no cargo, o bilionário já estava trabalhando com Howard Lutnick, copresidente da equipe de transição de Trump e um dos principais nomes cotados para o Tesouro. Ainda não está claro como funcionará o departamento, cuja proposta inicial é atuar como um escritório governamental que Musk supervisionaria de fora do governo, nem como ele será financiado.
Influência na eleição
Musk foi um dos principais doares da campanha eleitoral de Trump, comandando um chamado SuperPAC (grupo de grandes doadores) que destinou milhões à campanha. Segundo a Associated Press, o bilionário desembolsou cerca de US$ 200 milhões (R$ 1,15 bilhão) para eleger o candidato republicano, incluindo sorteios acusados de configurar compra de voto. A Justiça liberou a ação, que consistia em sortear US$ 1 milhão por dia para eleitores registrados na Pensilvânia — estado considerado a "joia da Coroa" do pleito — que assinassem uma petição a favor de emendas defendidas por Trump, como o direito à compra de armas.
Antes mesmo do anúncio, Musk já havia prometido promover US$ 2 trilhões em cortes, sobretudo a burocracia federal, admitindo, porém, que as medidas podem causar "dificuldades temporárias" para os americanos.
A estratégia está em consonância com um dos planos do chamado Projeto 2025, uma agenda conservadora feita por ex-funcionários de Trump que defende o fim da estabilidade no funcionalismo público e a "teoria do Executivo unitário", que propõe colocar toda a burocracia federal — incluindo órgãos independentes, como o Ministério da Justiça — diretamente sob controle do presidente.
Conflito de interesses
Críticos, no entanto, apontam para o conflito de interesses com a entrada do bilionário na máquina pública, já que algumas de suas empresas, como SpaceX e Tesla, têm contratos bilionários com o governo. Até agora, Musk não deu qualquer indício de que abrirá mão do controle das suas empresas ao ser empossado.
Hoje, as seis empresas que Musk administra estão profundamente entrelaçadas com agências federais. Elas faturam bilhões com contratos para lançar foguetes, construir satélites e fornecer serviços de comunicação via satélite. A Tesla ganha centenas de milhões a mais com créditos de emissão negociáveis, criados por leis federais. E as empresas de Musk enfrentam pelo menos 20 investigações recentes, incluindo uma focada em tecnologia de carro autônomo que a Tesla considera fundamental para o seu futuro. Agora, Musk ganha o poder de supervisioná-las diretamente.
Segundo o New York Times, Musk chegou a pedir a Trump que ele contratasse alguns funcionários da SpaceX, sua empresa de foguetes, para ocupar cargos importantes no governo — incluindo no Departamento de Defesa, de acordo com duas pessoas que estavam a par das ligações. Esse pedido, que colocaria funcionários da empresa em uma agência que é um de seus maiores clientes, é um sinal dos benefícios que Musk pode colher após investir tanto na campanha.
Relação estreita
Logo após a projeção de vitória de Trump, na quarta-feira passada, a fortuna de Musk subiu mais de US$ 20 bilhões, com a elevação das ações da Tesla em 15%. Segundo uma estimativa da Forbes, a perspectiva de uma regulamentação mais flexível em negócios de seu interesse elevou o patrimônio líquido total de Musk, o homem mais rico do mundo, para US$ 314 bilhões.
Trump deixou claro em entrevistas recentes que usaria seu poder executivo para ajudar o empresário.
— Precisamos tornar a vida boa para nossos talentos, e ele é tão inteligente quanto se pode ser — disse Trump em um comício em Michigan em julho.
O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário