terça-feira, 12 de novembro de 2024

Após eleição de Trump, Banco Central cita incerteza com possíveis mudanças na política econômica dos EUA

 

O Banco Central deu recados importantes sobre a situação inflacionária e a condução da política fiscal no Brasil e em relação aos temores com mudanças na economia dos Estados Unidos após a eleição de Donald Trump na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira


Segundo o BC, a possibilidade de mudanças na condução da política econômica americana traz incertezas adicionais em relação às implicações do cenário externo para o Brasil. Já a contenção de gastos públicos, que vem sendo discutida pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, pode induzir o crescimento econômico no médio de prazo, considerou a autoridade monetária.


Por fim, o BC reforçou que vem observando uma interrupção no processo desinflacionário. Os três fatores, além de riscos relacionados ao forte crescimento da atividade econômica no Brasil, justificam uma política monetária mais dura.


Todas as avaliações foram feitas na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) divulgada nesta terça-feira, que explica a decisão de elevar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano, na semana passada. A decisão representou uma aceleração do ritmo de aperto monetário ante agosto, quando o BC retomou a alta de juros com uma dose de 0,25 ponto percentual.


No documento, o BC cita explicitamente a preocupação com os efeitos de "possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho e introdução de tarifas à importação", mas afirma que espera desaceleração "gradual e ordenada" da economia norte-americana. Também acrescenta que o cenário externo se mantém desafiador, não só por incertezas econômicas, mas também geopolíticas. Na ata anterior, em setembro, o ambiente internacional foi considerado mais benigno, ainda que desafiador.


"O cenário externo se mantém desafiador, com incertezas econômicas e geopolíticas relevantes. Com relação aos Estados Unidos, permanece grande incerteza sobre o ritmo da desinflação e da desaceleração da atividade econômica. Em paralelo, a possibilidade de mudanças na condução da política econômica também traz adicional incerteza ao cenário, particularmente com possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho e introdução de tarifas à importação", diz o documento divulgado hoje.


Assim como no comunicado, o BC não deu dicas sobre seus próximos passos e disse que o "ritmo de ajustes futuros e a magnitude total do ciclo" serão ditados pelo firme compromisso da convergência da inflação à meta. Mas para economistas a autoridade monetária indicou que o plano de voo à frente deve depender das entregas fiscais pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva.


Na ata, a autoridade monetária explicou que julgou adequado pisar no acelerador e aumentar o ritmo de elevação da Selic "considerando a necessidade de uma política monetária mais contracionista". Essa conclusão vem da análise de que tem-se observado uma interrupção no processo desinflacionário, com projeções e expectativas de inflação acima da meta, além de riscos relacionados às incertezas fiscais, externas e sobre o ritmo do crescimento econômico no Brasil.


"Enfatizou-se que um aumento de 0,50 ponto percentual se mostra apropriado diante das condições econômicas correntes e das incertezas prospectivas, refletindo o compromisso de convergência da inflação à meta, essencial para a construção contínua de credibilidade", disse o BC na ata.


Além disso, argumentou que, preferiu uma comunicação que reforça a importância do acompanhamento dos cenários ao longo do tempo, sem conferir indicação futura de seus próximos passos "em virtude das incertezas envolvidas". Mas reforçou o "firme compromisso de convergência da inflação à meta".


Em meio à discussão do Executivo sobre um pacote para conter o crescimento dos gastos públicos, o BC destacou que discutiu na reunião do Copom o desafio de estabilizar a dívida pública em virtude de aspectos mais estruturais do orçamento público.


"Mencionou-se que a redução de crescimento dos gastos, principalmente de forma mais estrutural, pode inclusive ser indutor de crescimento econômico no médio prazo por meio de seu impacto nas condições financeiras, no prêmio de risco e na melhor alocação de recursos", disse o BC.



No comunicado, o BC já tinha defendido enfaticamente que a "apresentação e execução” de medidas estruturais nas contas públicas contribuirá para uma trajetória mais favorável da inflação e, assim, para o nível de juros.


Esse alerta, assim como a decisão de elevar a Selic para 11,25% foi feito por todos os membros da diretoria do BC, inclusive pelos integrantes indicados por Lula. É o caso, por exemplo, de Gabriel Galípolo, escolhido pelo presidente para assumir a instituição após o fim do mandato de Roberto Campos Neto e já aprovado pelo Senado.



Após a vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos, o BC também passou a considerar que a conjuntura econômica do país é incerta, mas não fez qualquer menção ao pleito. Em setembro, o Copom falou em "inflexão" no ciclo econômico nos EUA.


As projeções oficiais do colegiado para a inflação aumentaram e continuam distantes da meta de 3,0% (intervalo de tolerância de 1,5% a 4,5%). Pela primeira vez, o BC passou a ver um resultado acima do limite superior da meta para 2024, de 4,6%, contra 4,3% antes. Para 2025, a estimativa aumentou de 3,7% para 3,9%.


O horizonte com que o BC trabalha para colocar a inflação na meta é o segundo trimestre de 2026. Nesse caso, a projeção oficial é de 3,6%, contra o alvo de 3,0%. Até setembro, o colegiado mirava o primeiro trimestre de 2026, cuja projeção era de 3,5%.


Do último encontro do Copom para cá, o BC também viu as expectativas de inflação se distanciarem ainda mais da meta de 3,0%. Em 2024, o mercado financeiro passou a prever estouro do limite superior da meta, de 4,5%, em 4,59%. Para 2025, subiu de 3,95% para 4,03%. Já para o final de 2026, a mediana chegou a 3,61%.



Por  — Brasília

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