Controle de traça do tomateiro, Tuta absoluta
A tomaticultura é uma atividade econômica e social muito importante no Brasil, gerando renda e empregos. O Brasil é o décimo produtor mundial de tomates com produção anual em torno de 3,75 milhões de toneladas em uma área aproximada de 52 mil hectares.
Vários insetos-pragas atacam o tomateiro, mas as pragas-chave são determinantes da produção. Dentre estas, a traça do tomateiro (Tuta absoluta) é em geral a mais importante pelas perdas que causa e por sua distribuição no mundo. Ela ataca não somente as partes vegetativas do tomateiro, mas também os frutos, exigindo um cuidado constante por parte do produtor. Desde a sua entrada nos primeiros anos de 1980 no Brasil, a traça do tomateiro vem apresentando cada vez mais dificuldades aos produtores no seu controle. O uso quase que exclusivo de pesticidas nas lavouras de tomateiro tem agravado o controle desta praga, particularmente pela facilidade que esta tem apresentado em desenvolver resistência aos inseticidas. Desta forma, é muito importante que outras táticas de controle e de manejo de resistência sejam inseridas na filosofia do manejo de pragas, buscando a convivência com a praga.
Assim, convidamos Herbert Siqueira, Engenheiro Agrônomo e professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco – Campus Recife, para falar sobre a traça do tomateiro e algumas táticas de controle que podem ser implementadas.
A traça do tomateiro, Tuta absoluta
A traça do tomateiro é um inseto que apresenta desenvolvimento completo (ovo-larva-pupa-adulto) que em torno de 25oC completa seu ciclo em cerca de 30 dias. Quanto à fenologia da planta, é uma praga que ocorre desde o viveiro de mudas até a colheita. No Brasil, ela é um problema da tomaticultura, porém em outros países ela ocorre em outras culturas como batata e berinjela. No entanto, ela usa como hospedeiros a jurubeba e a maria-preta, dentre outras plantas no Brasil. Assim, o manejo adequado de plantas daninhas e plantas espontâneas na área cultivada é muito importante para o controle da traça do tomateiro.
A fase da praga que causa injúrias na planta é a larval, a qual causa redução da área fotossintética ao minar folhas, quebra de dominância apical e broqueamento de flores e frutos, levando a perdas diretas da produção. No entanto, a fase adulta é igualmente importante porque é responsável pela reprodução e dispersão da praga. Populações de pragas são em geral reguladas naturalmente por fatores bióticos (predadores, parasitoides e doenças) e abióticos (fatores climáticos). A precipitação pluviométrica tem papel importante na redução das infestações de traça do tomateiro por eliminar principalmente ovos e larvas. Embora seja um inseto exótico, a traça do tomateiro tem encontrado no Brasil inúmeros inimigos naturais que têm desempenhado papel importante na regulação
Dicas para reduzir as perdas na cultura
A manutenção da área de cultivo livre de ervas daninhas, particularmente as hospedeiras, é uma medida importante para diminuição das infestações. No entanto, a preservação de áreas adjacentes é uma medida interessante não somente para preservação de genótipos suscetíveis da traça do tomateiro, mas também para preservação de inimigos naturais.
Importante também que o produtor inclua no seu manejo o uso de feromônio para monitoramento da população de adultos, idealmente alguns dias antes do transplantio. Desta forma, ele terá ideia se a população está alta, o que poderá traduzir em alta quantidade de ovos. Associado a isto, o monitoramento de ovos é importante porque, em cerca de 4-5 dias, larvas irão eclodir e penetrar nas folhas. Este momento é crucial para o controle da T. absoluta. Após penetrarem nas folhas, o controle torna-se mais difícil. Seja qual for o produto larvicida aplicado, este será mais efetivo no momento da penetração da larva.
O uso de controle biológico aplicado, em particular com Trichogramma pretiosum, deve ser recomendado durante o monitoramento de adultos e ovos. Quando detectar os primeiros adultos/ovos, por volta de 40 a 50 dias após o transplantio, fazer as liberações do parasitoide. A liberação com maior frequência na semana apresenta eficácia maior do que uma única aplicação. Paralelamente, deve-se fazer uma aplicação de Bacillus thuringiensis na semana, para controle de larvas que eventualmente escaparam à liberação do parasitoide.
O uso do controle químico deve ser utilizado quando as infestações atingirem o nível de controle, 20% de folhas minadas e 1% de frutos broqueados. Estes são determinados a partir da amostragem de 20 amostras (5 plantas por amostra) dentro do talhão. Alguns aspectos são importantes na tomada de decisão e escolha do defensivo. A eficiência do produto é o mais importante para contenção de altas infestações, mas não menos importante, a seletividade em favor dos inimigos naturais tem papel crucial na preservação destes, os quais atuarão sobre eventuais sobreviventes à pulverização, que incluem os resistentes. No controle químico, o custo é muito importante, porém o produtor deve ter cuidado com as armadilhas. A reaplicação de produtos baratos se tornará cara com o agravante dos efeitos colaterais de sucessivas aplicações.
A resistência da traça do tomateiro é hoje um problema amplamente relatado. Esta espécie tem desenvolvido resistência a praticamente todos os grupos químicos de pesticidas registrados para seu controle. O ataque múltiplo (ex.: rotação de modos de ação) é uma medida importante, mas não deve ser a única. O conhecimento das bases que regem cada uma das resistência possibilita o estabelecimento de outras estratégias e/ou táticas de manejo. Aliado a isto, é importante o monitoramento das resistências, não somente para saber o momento adequado para a troca do produto (Modo de Ação), mas também verificar o sucesso do programa de manejo de resistência.
Por fim, como medida de combate à resistência e aos surtos da praga, o produtor deve fazer a eliminação dos restos culturais tão logo ele finalize a colheita.
Prof. Herbert Siqueira
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