Por Terra
Caso as vacinas CoronaVac e Oxford tenham sua eficácia reduzida contra as novas variantes do coronavírus em circulação, o processo de adaptação dos imunizantes a essas cepas deverá durar cerca de dois meses, segundo relataram ao Estadão cientistas envolvidos nas pesquisas.
Tanto a Universidade de Oxford - em parceria com pesquisadores brasileiros - quanto o Instituto Butantan e a Biotech Sinovac, responsáveis pelo desenvolvimento e produção da CoronaVac, já estão realizando testes para verificar se as linhagens emergentes afetam o desempenho dos dois imunizantes, os únicos até agora aprovados para uso no Brasil.
Os estudos são feitos em duas frentes principais. Na primeira, é realizado o sequenciamento genético do vírus presente em amostras de pacientes infectados pelo coronavírus e que foram vacinados. O objetivo é checar se há maior número de casos da doença entre infectados pelas novas variantes.
Na segunda frente, são feitos testes que colocam o soro de pacientes imunizados em contato com as novas cepas para ver se os anticorpos presentes no soro são capazes de neutralizar o patógeno.
A maior preocupação está sobre a cepa P.1, originada no Amazonas. Estudos indicam que ela já é predominante em Manaus e está presente em pelo menos outros dez Estados brasileiros. Ao lado da cepa brasileira, as variantes britânica (B.1.1.7) e sul-africana (B.1.351)também são classificadas como preocupantes pela Organização Mundial da Saúde (OMS) por conterem mutações que as tornam potencialmente mais transmissíveis e capazes de escapar dos anticorpos.
De acordo com Sue Ann Costa Clemens, coordenadora dos centros de pesquisa da vacina de Oxford no Brasil, amostras da cepa P.1 coletadas de pacientes de Manaus foram enviadas há duas semanas para a Universidade de Oxford para que os testes sejam feitos.
Ela afirma que os resultados devem sair em breve e destaca que a instituição estima um prazo de 10 semanas para adaptar a vacina para as novas cepas, caso isso seja necessário. "É o tempo que precisa para cultivar o novo vírus e fazer as alterações. Depois disso, teria início a produção", afirmou.
Prazo similar é estimado pela Sinovac, farmacêutica que desenvolve a CoronaVac em parceria com o Butantan. Em entrevista ao jornal estatal chinês Global Times no final de janeiro, o pesquisador Shao Yiming, assessor médico chefe para pesquisa e desenvolvimento de vacinas contra a covid-19 do país asiático, afirmou que a fabricante chinesa seria capaz de fazer o "redesenho" da vacina em dois meses, tempo necessário para o cultivo do chamado banco de semente do vírus usado no imunizante. A informação foi confirmada pelo Estadão com pesquisadores brasileiros envolvidos nos estudos.
Uma vez adaptada, a vacina não precisará passar por ensaios clínicos novamente, somente por testes de imunogenicidade. Eles confirmarão in vitro se o imunizante é capaz de provocar resposta imune.
O Butantan firmou uma parceria com cientistas da Universidade de São Paulo (USP) para acelerar os testes de eficácia da CoronaVac contra a cepa P.1.
Pesquisadores do Instituto de Medicina Tropical (IMT-USP) vão fazer o sequenciamento genético de amostras de participantes do estudo clínico da CoronaVac no Brasil infectadas pelo coronavírus. "São 500 amostras vindas de vários locais. O objetivo é verificar as variantes mais frequentes entre os voluntários", explica Ester Sabino, professora do IMT envolvida na força-tarefa.
Em outra frente, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas da universidade realizarão os testes em laboratório com o soro de pacientes vacinados para checar se os anticorpos formados são capazes de deter as novas cepas. O coordenador do grupo, Edison Durigon, disse ao Estadão que espera ter respostas em duas semanas.
A Sinovac, por sua vez, realiza testes de eficácia da CoronaVac contra as variantes britânica e sul-africana.
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