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terça-feira, 11 de agosto de 2020
Brasil tem uma das piores taxas de mortes por milhão pela Covid-19
G1
O Brasil atingiu no último sábado, dia 08 de agosto, a marca de 100 mil mortos pela Covid-19. Apesar disso, o governo tem argumentado que o país tem “um dos menores índices de óbitos por milhão entre as grandes nações”. A afirmação não é verdadeira. A taxa do Brasil está entre as piores do mundo e, como as mortes continuam em ritmo alto, o Brasil está piorando nesse ranking.
Ainda assim, especialistas dizem que é preciso cuidado ao comparar a taxa de mortes por milhão de cada país. Epidemiologistas afirmam que, ao fazer simplesmente uma taxa por milhão de habitantes e comparar países, são deixadas de lado informações importantes como: o estágio da pandemia, o tamanho da população, a densidade demográfica, o perfil etário, o nível de testagem, entre outras.
Em números absolutos, o Brasil tem o segundo maior número de mortes do planeta, atrás apenas dos EUA. Já dados coletados pela universidade Johns Hopkins colocam o Brasil hoje na 11ª posição entre 167 países do mundo em taxa de mortos por milhão. Ou seja, o índice não é um dos menores entre as grandes nações. Em 20 de junho, quando o país registrou 50 mil mortos, ele figurava na 17ª colocação. Em 9 de maio, quando tinha 10 mil mortos, estava na 33ª posição.
Isso se explica, em parte, porque a doença já está sob controle em boa parte dos países da lista. Não é o caso do Brasil, cuja média móvel tem ficado em torno de mil mortes por dia, num patamar de estabilidade.
Dos países mais populosos do mundo, apenas os EUA aparecem atualmente na frente, em 10º. O Brasil também é superado por sete países da Europa (San Marino, Bélgica, Reino Unido, Andorra, Espanha, Itália e Suécia), além de Peru e Chile.
A distorção, porém, pode ser vista já na 1ª posição desse ranking: San Marino, com pouco mais de 30 mil habitantes, é o que tem mais mortes por milhão. Mas foram apenas 42 no total. O mesmo acontece com Andorra, que aparece em 4º. Há, no entanto, pouco mais de 75 mil habitantes no pequeno país europeu.
“Não tem como comparar número de mortes por milhão do Brasil com San Marino, por exemplo, que é o primeiro dessa lista bruta. San Marino está há muito mais tempo na pandemia e já está com os casos sob controle [não registra óbitos há dias]. Já o Brasil vem registrando cerca de mil mortes diárias tem semanas. Se olharmos somente esse número bruto, sem considerar o estágio da pandemia, entenderemos que é só uma questão de tempo para que o Brasil seja o país com maior número de mortes por milhão”, diz Domingos Alves, pesquisador da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo de Ribeirão Preto.
O epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da USP Paulo Lotufo diz que "morte por milhão" é “um termo canhestro para um coeficiente de mortalidade (costumeiramente por 100 mil habitantes) e que não se aplica em epidemias de uma forma geral”. “Como não se aplica numa explosão como a de Beirute, na tragédia de Brumadinho ou numa queda de avião”, afirma.
“Podemos usar para comparar somente locais onde já houve a epidemia, mas não para comparar local que ficou fora da pandemia (se fizermos isso, estamos inflando artificialmente o denominador)”, diz, referindo-se a cidades ainda não afetadas pela doença em um país continental como o Brasil.
“Ainda não estamos liderando o ranking de mortes por milhão neste momento, neste estágio em que estamos da pandemia, mas certamente vamos liderar se os números não baixarem. É só comparar os registros do Brasil semana a semana com países que lideram o ranking, e veremos que temos muito mais casos e mortes”, afirma o epidemiologista e reitor da Universidade Federal de Pelotas, Pedro Hallal.
Ou seja, comparações que consideram a população são importantes e são usadas para estudar a evolução e a distribuição da doença, mas fazer esse tipo de cálculo agora não é adequado, dizem os especialistas.
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