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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020
1917 / ganha três Oscar2020: fotografia, efeitos visuais e mixagem de som.
Ficha técnica
Nome: 1917
Nome Original: 1917
Cor filmagem: Colorida
Origem: Inglaterra
Ano de produção: 2019
Gênero: Drama, Filme de época, Guerra
Duração: 119 min
Classificação: 14 anos
Direção: Sam Mendes
Elenco: Benedict Cumberbatch, Colin Firth, George Mackay, Dean-Charles Chapman, Mark Strong
O sentido de urgência percorre cada minuto de 1917, o novo drama de guerra do inglês Sam Mendes em que ele parece disposto a desafiar o significado da palavra “impossível”. É, também, o tipo de narrativa comandada pela opção pela técnica de tomada única, o que lança os espectadores na mesma jornada infernal de Blake (Dean-Charles Chapman) e Schofield (George MacKay), dois jovens soldados britânicos encarregados de uma missão impossível nas trincheiras enlameadas da I Guerra Mundial.
Escrito a quatro mãos - Mendes divide os créditos com Kristy Wilson-Cairns -, o roteiro inspira-se vagamente nas histórias que o avô paterno do diretor, o romancista Alfred Mendes, lhe contava na infância, sobre suas próprias peripécias na guerra 1914-1918. Fiel ao espírito desses relatos, Mendes não injeta nenhum vestígio de heroísmo intencional na trajetória dos dois soldados, enfatizando, ao contrário, o inevitável convívio com o caos e a incerteza que pontuava cada um de seus passos. A primeira tarefa de toda guerra é simplesmente continuar vivo.
Devido à opção pela técnica da tomada única, cresce a importância de contar, na direção de fotografia, com um profissional tarimbado como o inglês Roger Deakins, que se torna um co-autor do filme da maneira mais exemplar, fazendo jus ao segundo Oscar que venceu aqui. Devido a essa escolha, o público só vê o que os dois protagonistas vêem, descobrindo com eles as surpresas, não raro desagradáveis, do perigoso caminho. Pelo menos uma cena crucial passa-se fora do quadro, o que soma dramaticidade de uma forma muito diferente da habitual maneira explícita com que filmes de guerra retratam a violência.
Blake e Schofield receberam de seu general (Colin Firth) uma tarefa ingrata - atravessar os campos devastados e as trincheiras abandonadas, misteriosamente, pelos inimigos alemães, para prevenir um outro batalhão aliado de uma tramoia, suspendendo um ataque programado, que os levaria direto a uma catástrofe. Não há outra possibilidade de comunicação a este envio dos mensageiros, a pé, por centenas de quilômetros e com o relógio contra eles. Blake tem mais um motivo para desespero - no batalhão que procura está o seu irmão, cuja vida ele sente obrigação de salvar a todo custo.
Devido à forma como o filme foi feito - evidentemente, não numa única tomada, mas em várias cuidadosamente marcadas, cuja montagem digital revela-se virtualmente invisível -, compartilha-se com Blake e Schofield a sensação de vulnerabilidade permanente, percorrendo campos enlameados, coalhados de cadáveres insepultos, trincheiras abandonadas mas sob ameaça constante de atiradores ocultos nos inúmeros buracos à frente. Fome, sede, cansaço, sujeira, ratos, tudo se soma para afrontar a persistência dos soldados que, em momentos distintos, salvam a vida um do outro. Eventualmente, outros personagens se apresentam nesta paisagem europeia destruída em que uma sensação da inutilidade dos esforços se infiltra diariamente nas tropas cansadas. Todos parecem apenas querer que tudo acabe o quanto antes.
O perfil dos oficiais igualmente é desprovido do heroísmo de tantos filmes de guerra. É o caso do coronel Mackenzie (Benedict Cumberbatch), o destinatário do recado dos dois soldados, e que se mostra mais um pragmático decepcionado do que um estrategista. A batalha parece, afinal, não mais do que um longo exercício de um trabalho sujo e perigoso.
Contrastando com esse contexto geral, não há como não se envolver emocionalmente com Blake e Schofield em sua jornada infernal - e aí a opção de câmera revela claramente ao que veio. Somando eficiência a este retrato de uma das guerras definidoras da Europa no último século, a equipe técnica conta com outro veterano na montagem, o australiano Lee Smith, vencedor do Oscar pela edição de Dunkirk, outro drama de guerra especialmente bem-realizado.
Não há assim tantos filmes notáveis sobre a I Guerra Mundial (como há sobre a II), motivo pelo qual se poderá comparar 1917 a Cavalo de Guerra (2011), de Steven Spielberg - que igualmente mergulhava na lama das trincheiras. A façanha técnica de 1917, no entanto, é de outra ordem, criando a maneira pela qual o filme respira e penetra na pele de quem o assiste.
Vencedor de dois Globos de Ouro (filme dramático e direção) e do prêmio principal do Sindicato dos Produtores da América, 1917 recebeu dez indicações no Oscar 2020, ficando com três: fotografia, efeitos visuais e mixagem de som.
Neusa Barbosa
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