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quarta-feira, 9 de outubro de 2019
FILME : AS LOUCURAS DE ROSE
Cine Web
As loucuras de Rose poderia muito bem se chamar Nasce uma estrela – dentro e fora do filme, aliás. A personagem-título é uma moça de Glasgow que sonha em ser cantora de country music, e a atriz Jessie Buckley é uma revelação aqui, dando corpo, alma e voz (e que voz!) para a protagonista. É o tipo de interpretação que joga os holofotes em uma intérprete relativamente pouco conhecida, dando-lhe a chance de brilhar. Não seria surpreendente vê-la indicada a um Oscar.
Quando o filme começa, Rose-Lynn está saindo da prisão, onde cumpriu um ano de pena. Sua dificuldade maior, nesse momento, é calçar suas botas de caubói usando a tornozeleira da condicional. Depois de resolver isso, vem a parte mais difícil, o reencontro com a mãe, Marion (Julie Walters, grande como sempre), e os filhos pequenos, Wynonna (Daisy Littlefield) e Lyle (Adam Mitchell). Reconquistar a confiança e o amor deles é um processo lento e doloroso – como sua tentativa de tornar-se uma cantora famosa.
Enquanto isso não acontece, ela aceita o trabalho de diarista para um casal rico. Sua nova patroa, Susannah (Sophie Okonedo), é simpática, gentil e repleta de boas intenções. Quando Rose pede dinheiro para ir para Nashville, ela nega, mas a ajuda a gravar um vídeo e o envia para um dos apresentadores de rádio mais famosos da Inglaterra. Este logo reconhece o talento de Rose, mas explica, o caminho é árduo e só talento pode não ser o suficiente.
Há uma investigação da dinâmica de classes interessante aqui, de maneira inesperada. O clichê da personagem branca e rica de bom coração que ajuda a pobre e negra é subvertido, mas, mais do que isso, a amizade que surge entre Rose e Susannah é sincera de ambas as partes.
O diretor Tom Harper e a roteirista Nicole Taylor enganam o público de uma maneira surpreendente porque, durante metade do filme, parece que estão construindo um grande clichê sobre talento e fama. Mas, aos poucos, As loucuras de Rose subverte as expectativas, reorganizando a narrativa até se transformar num relato sobre o amadurecimento de uma pessoa. E o resultado é um filme melancólico e propício a fazer chorar, mas as lágrimas que eventualmente pode arrancar são tiradas com toda a sinceridade do mundo.
Rose é uma mãe omissa – embora de bom coração – que não tem a menor noção de como cuidar do par de filhos – os pais das crianças jamais são mencionados. E tudo acaba sobrando para Marion que, além de esgotada fisicamente acredita que está mais do que na hora de a filha crescer. Mas nada disso é um fardo dentro do filme, pois diretor e roteirista não estão interessados em tirar grandes lições inspiradoras – por isso As loucuras de Rose é um grande filme.
É bonita a forma como a protagonista é construída e como sua trajetória não tem concessões. Por alguns momentos, Rose pode levar seu sonho em frente, parece que vai se tornar real, mas esse não é o tipo de filme que compra esse tipo de ideia. Harper e Taylor têm em mente algo mais honesto e pés no chão. O amadurecimento de Rose é, ao mesmo tempo, comovente e edificante porque o filme é honesto com a personagem.
Quando Rose se encontra com o locutor e se apresenta, explica que sonha em ser uma estrela country. Ela entende que, por ser escocesa, suas oportunidades são um tanto limitadas, mas ela se auto-define como uma espécie de “transexual que nasceu no país errado”. “Como as mulheres que nascem num corpo masculino... Eu sou uma americana que nasceu na Escócia.” Essa é Rose em sua candidez mais honesta, capaz de divertir e comover ao mesmo tempo.
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