sexta-feira, 14 de junho de 2019

Filme : OBSESSÃO





Talvez Isabelle Huppert seja a atriz da atualidade mais capaz de disfarçar mesquinhez como fragilidade, o que, realmente, faz dela a intérprete ideal para protagonizar o suspense Obsessão (o título nacional que arranjaram para Greta, que acaba sendo um spoiler e tirando metade da graça do longa,), dirigido pelo irlandês Neil Jordan. Também é verdade que embora ela seja uma das maiores atrizes do momento, sozinha não é capaz de salvar a confusão narrativa em forma de filme.

Huppert é Greta, uma viúva solitária em Nova York que esquece uma bolsa no metrô. Quem encontra é uma jovem garçonete, Frances (Chloë Grace Moretz), que ao encontrar a bolsa, resolve entregá-la pessoalmente à dona, já que tem um cartão com o endereço dentro. As duas começam uma amizade improvável, mesmo que a melhor amiga da menina, Erika (Maika Monroe), alerte-a sobre a estranheza da situação.

Frances veio de Boston tentar a vida em Nova York e perdeu a mãe há pouco tempo. Esta perda é uma situação com que ela ainda não lidou completamente, e a entrada de Greta em sua vida, mesmo que não perceba ou aceite, é para suprir o papel materno que lhe falta. A mulher madura também tem seus problemas, em especial a solidão desde a perda do marido e de quando a filha foi estudar piano na França.

Aquela que parecia uma bela amizade sai do prumo quando Frances encontra num armário na casa de Greta uma série de bolsas iguais àquela que a garota encontrou no metrô, com um post-its com nomes e telefones de outras moças. Seria a protagonista uma serial stalker? Aos poucos, a verdade se revela obviamente muito pior e este é um dos maiores defeitos do roteiro, assinado por Ray Wright e Jordan. Ou seja, tudo é bem óbvio.

Obsessão é um filme com mais de duas décadas de atraso. É o típico exemplar de suspense psicológico protagonizado por mulheres dos anos de 1990, como Mulher solteira procura e A mão que balança o berço. Fora a trama um tanto surrada, o tema exige que suas personagens sejam um tanto tolas, do contrário, não haveria filme.

A moça procura a polícia, depois que sua perseguidora passa um dia inteiro literalmente plantada em frente ao restaurante onde Frances trabalha. O policial diz que nada pode fazer, não há nada de errado nessa atitude, que essa obsessão acaba passando sozinha, “é só não dar atenção”, diz. Mais tarde – na melhor cena do filme –, Greta tem um ataque nervoso no restaurante, e o mesmo policial testemunha que este é o tipo de problema que não se resolve assim tão facilmente.

São momentos como esse que faltam ao filme, algo com mais pungência e exagero que faça Obsessão se assumir como o filme B que realmente é. “Como está o Chianti”, pergunta Frances ao servir o vinho no restaurante para Greta, que responde: “Como você, promete muito e depois decepciona”. Essa é uma frase que poderia servir perfeitamente para descrever o longa de Jordan, que já viveu melhores dias, como em 1993, quando venceu um Oscar pelo roteiro original de seu pungente Traídos pelo Desejo. .
Alysson Oliveira

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