sábado, 23 de março de 2019

Filme: Jorge Guinle - Só Se Vive Uma Vez



Alternando trechos documentais e segmentos recriados com atores, o filme reconstitui parte da vida do playboy Jorginho Guinle (1916-2004). Herdeiro de uma rica família, que deteve a propriedade do hotel Copacabana Palace, um percentual da renda do Porto de Santos e inúmeras indústrias, além de imóveis, Jorginho orgulhava-se de nunca ter trabalhado um dia em sua vida. Até aproximadamente 50 anos, quando ocorreu a morte de seu pai, recebia mesada e, a acreditar-se nesta sua cinebiografia, desconhecia o que era um mero extrato bancário.

Apresentado às sensibilidades de uma época como a nossa, marcada por questões sociais e de gênero à flor da pele, é duvidoso que tipo de simpatia poderá despertar tal personagem - interpretado, nas partes atuadas, pelo ator Saulo Segreto. Certamente, Jorginho era um tipo simpático, elegante e sedutor, que circulava facilmente nos ambientes mais seletos do Rio de Janeiro, Paris e Nova York e cultivava amizades entre ricos, famosos e poderosos, como Nelson Rockefeller, além de ter um bom trânsito no governo de Getúlio Vargas - a ponto de tornar-se uma espécie de agente da “política de boa vizinhança” entre EUA e Brasil no pós-guerra, atraindo para o Carnaval carioca beldades de Hollywood, como Rita Hayworth e Kim Novak, com quem ele teria mantido romances. A mudança da capital do Rio para Brasília deslocou esse ambiente de charme onde ele se sentia tão à vontade.

Evidentemente, o filme de Otávio Escobar, que entrevista amigos e parentes do personagem, além de alguns jornalistas, não deixa de abordar a fase de decadência de Jorginho, que se dá na maturidade, quando ele é forçado a vender partes cada vez mais substanciais de seu patrimônio para sobreviver - inclusive os quadros de seu filho mais velho, o pintor Jorge Guinle Filho, que morreu de AIDS em 1987. Mas o filme é linear e brando demais para dar qualquer profundidade ao perfil, muito menos criar realmente empatia ou desprezo por este modo de vida.
Neusa Barbosa

Nenhum comentário: