sexta-feira, 18 de janeiro de 2019

Estreia: Cafarnaum veja o Trailer





Boa parte deste filme, que venceu o Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2018 e entrou na pré-lista do Oscar de filme estrangeiro 2019, passa-se nas ruas de Beirute, o cenário da impressionante jornada de um menino de 12 anos, Zain (Zain Alrafeea).

Explorado por seus pais, dois lúmpens, ele simplesmente não tem existência civil – devido aos custos, ele nunca foi registrado, o que o mantém fora da escola e dos serviços de saúde. Para ajudar a sobrevivência da família, ele trabalha em várias coisas, o que não impede que seja maltratado. Sua obsessão é tentar proteger a irmã (Cedra Izam), que os pais querem entregar ao comerciante que é patrão do menino assim que a garota, aos 11 anos, tem a primeira menstruação.

A jornada de Zain o leva longe da família disfuncional, sendo incorporado ao núcleo formado por uma imigrante africana ilegal (Yordanos Shifera) e seu filho pequeno, Yonas (Treasure Bankole). Juntos, Zain e Yonas protagonizam algumas das sequências mais angustiantes do filme, que ilustram a total exposição deles a um mundo de adultos incapazes de protegê-los.

Honesto e contundente como é, em seus princípios, o filme de Nadine peca por um excesso de boas intenções, além de querer contemplar assuntos demais, embora seja justo observar que representa um notável crescimento da diretora, também atriz, que assina filmes como Caramelo (2007) e E agora, para onde vamos? (2011).

O maior pecado, no entanto, é colocar na boca do pequeno Zain um discurso, representando evidentemente o pensamento da diretora, que não convence, porque não cabe no universo dele. Fica difícil aceitar que Zain, vivendo como vive, procure a justiça para acionar os pais por “tê-lo trazido ao mundo”. Enfim, Cafarnaum peca por este excesso no melodrama e no discurso, mas acerta quando deixa seus pequenos protagonistas viverem em cena situações que experimentaram de verdade, como fica evidente. Esta denúncia do abandono e da exploração da infância representa o que o filme tem de melhor.

Neusa Barbosa

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