quinta-feira, 24 de maio de 2018

Desabastecimento e alta de preços chegam ao consumidor no Estado


Por EDUARDO FREGATTO E DANIELLA ARRUDA/Portal Correio do Estado


Protesto dos caminhoneiros segue hoje pelo quarto dia em Mato Grosso do Sul e começa a afetar o abastecimento em distribuidoras de alimentos, postos de combustíveis, supermercados, frigoríficos e também nos serviços dos Correios. Ontem, a reportagem obteve informação de que, pelo menos, um posto, na Avenida Costa e Silva, na Capital, já estava sem estoque de gasolina. Outros estabelecimentos impuseram limites de 20 litros de combustível por carro, para economizar o volume disponível.

De acordo com o gerente executivo do Sindicato do Comércio Varejista de Derivados de Petróleo e Lubrificantes de MS (Sinpetro), Edson Lazaroto, “a paralisação dos caminhoneiros já está afetando todo o segmento de combustíveis, principalmente nas cidades do interior, e as bases localizadas em Campo Grande estão operando com capacidade reduzida”. Segundo ele, caso a greve persista por mais dias, o abastecimento de todos os municípios do Estado ficará comprometido.

A Associação de Supermercados do Estado (Amas) também alerta sobre as carretas com mercadorias que estão retidas nas rodovias do Estado desde segunda-feira (21). Produtos como hortifrúti, perecíveis e não perecíveis já estão em falta nas gôndolas de estabelecimentos na Capital e no interior. O estoque disponível varia de acordo com cada loja, mas como, em geral, os supermercados costumam trabalhar com compras semanais, a estimativa é de que só haja mercadorias suficientes até sábado (26).

“Tem muita carga retida nas barreiras desde segunda-feira, não está passando nada [de veículos pesados]. Ontem [terça-feira], fiquei com uma carreta parada das 7h às 20h em Bandeirantes [BR-163]”, comentou Edmilson Veratti, presidente da Amas. Proprietário de uma rede de supermercados, ele conta que as três lojas no interior do Estado já não têm mais hortifrúti desde sábado passado, data em que chegou o último carregamento. “Também estou com carretas de óleo, açúcar e arroz parados na estrada”, completou.

Além do grupo Aurora, que suspendeu ontem e hoje os abates de suínos no Estado, os supermercados do Estado também se preparam para uma possível redução na oferta de carne bovina, já que alguns frigoríficos do Estado também enviaram comunicado, informando suspensão de abates em decorrência da paralisação dos caminhoneiros.

O grupo JBS, que mantém seis frigoríficos em Mato Grosso do Sul, informou em nota que “está adotando medidas em suas operações [fábricas] e logística, que inclui a paralisação de algumas unidades de carne bovina, aves e suínos, em razão da impossibilidade de escoar sua produção”.

Em relação às possíveis altas de custo nos alimentos e demais itens nos supermercados em função da greve, Veratti admite que, infelizmente, vão ser repassados para o consumidor. “É um movimento que, de certa forma, nós apoiamos. Vai gerar desabastecimento, mas o governo tem que entender que somente aumentar impostos não é viável nem sadio para ninguém e, em algum momento, ia acontecer algo assim, a população está insatisfeita”, comentou.

No supermercado Pão de Açúcar já havia cartazes informando o consumidor que eventuais faltas no estoque são decorrentes dos protestos dos caminhoneiros.

APREENSÃO

A Central de Abastecimento de Mato Grosso do Sul (Ceasa) também teme um futuro desabastecimento, apesar de a situação atual estar ainda sob controle. “Grande parte dos grevistas [de MS] estão usando bom senso e liberando os caminhões com cargas perecíveis. Então, o que está acontecendo agora é mais um atraso para a chegada dos produtos, de uma hora, uma hora e meia”, afirma Cristiano Chaves, coordenador da Divisão de Mercado e Estatística do Ceasa.

Contudo, há locais em que os bloqueios de rodovias estão mais rígidos, impedindo a passagem de qualquer veículo, como casos registrados no estado de São Paulo, o que afeta diretamente o abastecimento do Ceasa de Campo Grande. “Cerca de 85% dos produtos vêm de fora”, aponta Chaves.

Segundo ele, haveria risco de a situação chegar a desabastecimento, especialmente, hoje e amanhã, quando o fluxo de entregas é grande. “Realmente, não sabemos como vai ser”.

A assessoria de imprensa dos Correios de Mato Grosso do Sul informou que cerca de 15% das encomendas e 36% das correspondências (boletos, faturas, cartas) estão atrasadas. Segundo a empresa, os caminhões não conseguem chegar nem sair para distribuir as entregas.

A situação só não está pior, explicam, porque parte das encomendas e correspondências são enviadas por transporte aéreo. Contudo, o estoque “atrasado” deve aumentar, caso os bloqueios continuem, e os Correios já antecipam um plano de contigência para lidar com a crise.

O Aeroporto Internacional de Campo Grande, por outro lado, opera normalmente, segundo a assessoria da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero). Mas a situação pode se agravar, já que, segundo relatório da Infraero, o aeorporto da Capital  tem estoque de combustível suficiente para apenas até amanhã, sexta-feira.

*Editada às 8h55 para acréscimo de informações.

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