Filme : Adeus à Noite

Curioso que um filme com um assunto tão potencialmente explosivo como Adeus à noite resulte num tom quase banal. O mais surpreendente é que o longa conta com a direção do veterano francês André Téchiné, que traz à tela um assunto relevante do presente, mas não consegue evitar os clichês dos personagens, a partir de uma dramaturgia um tanto rasa.

Catherine Deneuve é Muriel, dona de um rancho de cavalos, que descobre que seu neto, Alex (Kacey Mottet Klein) se tornou um terrorista e quer entrar para o ISIS. Ao abandonar o curso de medicina, ele volta para a fazenda da avó, que o descobre envolvido com Lila (Oulaya Amamra), uma ajudante no local, que, além dos cavalos, também tem uma plantação de cerejeiras. Ela percebe que ele se converteu ao islamismo quando o vê rezando no jardim. A protagonista tenta entender o neto, acreditando que a conversão do rapaz é um ato de rebeldia pela perda da mãe.

O roteiro, assinado por Téchiné e Léa Mysius, não se dá ao trabalho de explicar as motivações de Alex e Lila, que estão em contato com Bilal (Stephane Bak), recrutador do ISIS. O casal precisa de uma grande quantia de dinheiro para o treinamento de Alex, que não hesita em roubar a avó, enquanto a namorada justifica que não há nada de errado nisso porque Muriel é uma "infiel".

Alex sempre disse para a avó que iria para o Canadá. Mas quando ela procura evidências do roubo nas coisas do rapaz, encontra a passagem não para a América do Norte, mas para a Istambul, por onde o rapaz espera entrar na Síria. Muriel toma medidas drásticas para salvar o rapaz e também procura ajuda de Fouad (Kamel Labroudi), um ex-jihadista que voltou para a França e se entregou. Ela espera que ele convença seu neto a abandonar seus planos.

Em meio a personagens de pouca profundidade, Fouad surge como a figura mais bem resolvida de todo o filme. Sua trajetória – embora ele tenha um papel claro aqui como ‘o árabe do bem’- é dotada de alguma complexidade, e a atuação de Labroudi ajuda bastante.

Alysson Oliveira