sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Trailer: Homem-Aranha no Aranhaverso

Cineweb


Com Homem-Aranha no Aranhaverso, o aracnídeo finalmente chega à pós-modernidade. Na animação, que merecidamente levou o Globo de Ouro na categoria, o protagonista descobre, entre tantas outras coisas, a política de identidades e o doloroso processo de amadurecimento na adolescência – o que não trai o tema do personagem, afinal, o grande drama de Peter Parker sempre foi aceitar a chegada da vida adulta.

Neste filme, o protagonista descobre ser apenas uma das várias versões do Homem-Aranha distribuídas por vários universos. O centro organizador, por assim dizer, é Miles Morales um adolescente afro-americano e latino, que está entrando na puberdade tão confuso quanto qualquer pessoa de sua idade. Tudo ao seu redor, desde a nova escola chique até o pai policial, deixam-no entediado ou constrangido. A única figura descolada de sua vida é o tio Aaron, um sujeito bem de vida e fortão que o leva a uma região abandonada do metrô de Nova York para fazer grafite. E, sem perceber, ali, o menino é picado por uma aranha radioativa.

Coisas estranhas começam a acontecer a ele, como grudar em tudo o que toca. Só quando encontra Peter Parker, descobre que também é um Homem-Aranha. Indignado, pergunta como podem existir dois deles? Bem, não são apenas dois; com o tempo, aparecem outras versões do herói, vindas dos seus respectivos universos.

Isso serve como pretexto para o filme dirigido por Bob Persichetti, Peter Ramsey e Rodney Rothman fazer a versão mais contemporânea e urgente do Homem-Aranha. O Miles negro e latino precisa aprender a lidar com sua herança – seja aquela do herói (com uma roupa preta e vermelha) ou a racial. Miles surgiu pela primeira vez em 2011, nos quadrinhos, numa tentativa de diversificar os personagens da Marvel. E diversificação se torna a palavra de ordem aqui, indo desde o retrô (um Homem-Aranha de filme noir) até o futurista, com uma personagem de anime, e até o bizarro, com um porco.

Sendo uma animação, Homem-Aranha no Aranhaverso dá ao personagem uma liberdade que nunca tiveram os filmes protagonizados por Tobey Maguire, Andrew Garfield e Tom Holland. Os movimentos e acrobacias do protagonista aqui desconhecem limites. Fora isso, o trio de diretores imprime ao visual uma estética de quadrinhos, trazendo textura às imagens, especialmente quando empregam pontilhismos típico dos desenhos de HQ.

A complexidade visual aliada à sagacidade da narrativa funcionam em boa parte do tempo, mas tornam a reta final do filme frustrante, ao deixar isso de lado e recorrer aos motivos mais básicos e simples de histórias em quadrinhos, com um vilão na figura de Kingpin, um sujeito gigantesco e careca que quer abrir um portal para outra dimensão. Ainda assim, tamanha a saturação do cinema com filmes de heróis que seguem sempre a mesma fórmula – excetuando raras exceções, como Pantera Negra - Homem-Aranha no Aranhaverso é um sopro de criatividade e ousadia.
Alysson Oliveira

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