domingo, 16 de dezembro de 2018

Trailer:; Chá Com As Damas


Num país como a Inglaterra, habituado aos protocolos ostentatórios da realeza, nem sempre é simples encontrar manifestações de autêntica nobreza – como é o caso deste documentário, que reúne quatro das grandes damas do teatro, cinema e televisão britânicos, Judi Dench, Joan Plowright, Maggie Smith e Eileen Atkins.

Com a intimidade de quem se conhece há cerca de cinco décadas, muitas vezes dividindo palcos, sets e bastidores, convivendo com os maridos e filhos das outras, as quatro octagenárias trocam memórias e tiradas cômicas sobre suas ricas trajetórias artísticas. O público também é levado a compartilhar de uma atmosfera intimista, na bela casa de campo de Joan, a mais velha das quatro (89 anos), viúva de sir Laurence Olivier.

Com grande espirituosidade, Joan não demonstra amargura pelo sério problema de saúde que a acomete (uma severa deficiência visual), lembrando os desafios de ser a mulher de Olivier, um dos monstros sagrados do teatro e do cinema inglês. Foi dela, entre as quatro, o maior fardo de sair da sombra do marido famoso, embora as outras também tenham sido casadas com atores. Maggie Smith, que dividiu o palco algumas vezes com Olivier, também se recorda de alguns duelos memoráveis com o amigo e seu conhecido perfeccionismo.

O que é mais delicioso neste documentário, dirigido pelo sul-africano Roger Michell (diretor do sucesso Um lugar chamado Notting Hill), é ter sido bem-sucedido em capturar momentos da convivência entre as damas – que inclusive ostentam oficialmente esse título, concedido pela monarquia britânica - sem forçar nenhuma pauta. O diretor se limita, simplesmente, a jogar algumas perguntas e elas vão respondendo, ou não, sacando tiradas precisas de humor e sabedoria.

É um filme para quem gosta de atores e se interessa por seres humanos ricos e multifacetados, como se descobre por trás destas amigas com muitas histórias para contar – mas nem todas elas querem realmente contar. Nenhuma pose, no entanto, como declaram quando o diretor lhes pergunta o que diriam a si mesmas se se encontrassem com sua própria versão jovem – melhor deixar para lá e que a vida aconteça por si mesma.

Neusa Barbosa

Nenhum comentário: