quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Inflação implícita subiu muito e isso gera desconforto para o BC, diz Campos Neto

 

                                           Folhapress

Presidente do Banco Central reiterou que a autarquia fará o que for preciso para atingir a meta de inflação

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta quarta-feira (28) que a inflação implícita subiu muito e afirmou que isso gera desconforto para a autoridade monetária.


A inflação implícita é aquela que está embutida na curva de juros futuros, ou seja, tem relação com as projeções do mercado para os preços no país.


"É importante enfatizar que o Banco Central vai fazer o que for preciso para atingir a meta", disse durante conferência anual do Santander, em São Paulo. Campos Neto ainda frisou que há uma "convergência de opiniões na diretoria do colegiado" do Copom (Comitê de Política Monetária) a respeito desse assunto.


O presidente do BC afirmou que os últimos dados do IPCA-15 (Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15), divulgados na terça-feira (27), vieram qualitativamente "um pouco melhor", mas enfatizou que eles ainda não dão conforto ao BC na política monetária.


Ele disse que a atividade econômica no Brasil está forte, com todos os índices apontando para uma melhora em quase todos os setores, ao passo que o desemprego vem caindo e a massa salarial subindo bastante, com ambos os indicadores (crescimento econômico e taxa de desemprego) mostrando que os analistas vêm errando nas projeções no país há algum tempo.


O presidente do BC disse que o setor de serviços, que tem sido acompanhado de perto pelos BCs no mundo todo, está um pouco pressionado, embora ainda longe do que se imaginava um tempo atrás em meio a um mercado de trabalho aquecido e à consequente alta do consumo.


Segundo Campos Neto, o Copom tem olhado com muita atenção para esse aspecto e frisou que a autarquia ainda precisa de mais dados para ter clareza das próximas decisões de juros.


Ele disse que entende que a falta de um guidance por parte do BC em suas comunicações, ou seja, de uma direção sobre o que a autoridade fará nas reuniões do Copom, gera mais volatilidade nos mercados, mas afirmou que o BC ainda não tem certeza sobre os dados atuais para deixar claro seus próximos passos e prefere ter mais flexibilidade na sua atuação.


"Não ter guidance às vezes eleva um pouco a volatilidade no mercado, as pessoas passam a prestar mais atenção no que cada diretor [do BC] fala (...) mas tem uns momentos que dar guidance tem valor esperado negativo", afirmou.


Campos Neto defendeu que essa falta de direcionamento não tira a credibilidade do Banco Central, argumentando que o que traz credibilidade é ter uma estrutura técnica ao longo do tempo, com transparência de comunicação, para além de uma ou duas decisões.


O presidente do BC também fez breves comentários sobre a política fiscal do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Ele reconheceu os esforços da equipe econômica, mas demonstrou preocupação com a alta de gastos.


"A gente reconhece que o governo tem se esforçado bastante, tem sido bastante difícil esse exercício, e a gente vê que, apesar de ter uma evolução de receita boa, as despesas estão subindo acima da receita", afirmou a uma plateia de agentes do mercado financeiro.


Questionado sobre a volatilidade do dólar, Campos Neto voltou a dizer que o BC chegou muito perto de fazer uma intervenção no câmbio e disse que a autoridade monetária ainda pode atuar se for preciso. "O Banco Central está com o dedo no gatilho", declarou.


Segundo o presidente do BC, a autarquia precisa atuar caso haja algum problema funcional no câmbio, como um movimento sem fundamento ou fluxo pontual muito grande.


Questionado sobre a mudança de presidência no Banco Central, já que seu mandato se encerra no fim deste ano, Campos Neto defendeu a indicação do nome antes, para que haja tempo hábil de seguir as novas regras estabelecidas na lei de autonomia do BC, como a sabatina no Senado.


Campos Neto afirmou que está à disposição para fazer a transição, e que gostaria que ela acontecesse da mesma forma suave que o presidente anterior, Ilan Goldfajn, fez com ele.

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