As festas de fim de ano costumam ter comidas pesadas, bebidas alcoólicas e sobremesas gordurosas, todos alimentos que, com outras alterações de rotina, provocam crises de enxaqueca -
- Alteração na rotina é pior para provocar crises do que os alimentos de maneira geral, dizem especialistas
- Beber água e fazer exercícios físicos são atitudes importantes para passar as festas sem dores de cabeça
As festas de fim de ano podem se transformar em um campo minado para quem sofre de enxaqueca. Isso porque esses eventos envolvem mudanças na rotina, no padrão de alimentação e do sono, além do consumo de bebidas alcoólicas —todos gatilhos para a condição e para dores de cabeça de maneira geral.
A enxaqueca é uma doença neurológica genética que causa fortes dores de cabeça, fotofobia (sensibilidade à luz) e enjoo, entre outros sintomas.
"Horários irregulares, jejum prolongado seguido de grandes refeições e noites mal dormidas são gatilhos mais relevantes do que a ingestão de um alimento isolado. A enxaqueca é extremamente sensível à quebra de ritmo", afirma Bruno Sthefan, cardiologista e médico do esporte.
Sthefan explica que alimentos gordurosos e pesados, como pernil, embutidos (carne processada de porco, vaca ou aves) e sobremesas, exigem maior fluxo sanguíneo digestivo e aumentam mediadores inflamatórios. Essa sobrecarga, segundo ele, facilita a ativação do eixo trigeminovascular (sistema funcional neurovascular), mecanismo central da enxaqueca.
"O segredo não está em demonizar um alimento, e sim evitar a queda brusca na rotina", afirma. "Organização, hidratação, regularidade e autoconhecimento são as melhores estratégias para atravessar esse período sem dor."
Para Cynthia Aidar, supervisora de nutrição do Hospital Moriah, o problema das festas de fim de ano é a combinação de fatores. Ela afirma que comer em excesso e beber muito já são, por si só, componentes para causar crises.
Mas a situação se intensifica com a ingestão de alimentos ricos em substâncias que desencadeiam a dor de cabeça. Entre eles estão os nitratos e nitritos, presentes nos embutidos, e a tiramina encontrada em queijos envelhecidos e no vinho, bebida que, além disso, ainda contém histamina, ligada a reações alérgicas e intolerância.
Completam o combo para ter crise de enxaqueca, de acordo com a nutricionista, dormir pouco, desidratação e o consumo excessivo de bebidas alcoólicas. "A falta de descanso, passar muitas horas acordado e o estresse do período contribuem ainda mais para o quadro. Com moderação e atenção aos sinais do corpo, é possível aproveitar as festas sem sofrimento."
O médico Alexandre Feldman, especialista em dor de cabeça e enxaqueca e autor do livro "Enxaqueca - Só Tem Quem Quer", compara esta época do ano a um campo minado para quem tem enxaqueca. Ele explica que mudanças na rotina de sono, alimentação, consumo de bebidas alcóolicas, aumento das temperaturas no verão, pressão por compras, interação social com pessoas queridas ou indesejáveis e estresse acumulado criam uma "tempestade perfeita" para o aumento das crises. "O cérebro de quem tem enxaqueca interpreta esse período como um teste de estresse biológico concentrado", afirma
Segundo o especialista, a enxaqueca é uma condição complexa com estímulos que variam para cada paciente. Por isso, a abordagem moderna sugere que, em vez de focar apenas a eliminação dos gatilhos, o tratamento deve tornar o paciente mais "competente" para lidar com eles. "Se a pessoa conseguir melhorar a previsibilidade do seu hábito de vida já evita a enxaqueca. O problema é que, mesmo quem viaja para descansar, acaba desorganizando a rotina que protegia o cérebro da enxaqueca."
Para driblar a doença nos dias de festas, Feldman recomenda moderação na alimentação. Ele também sugere tomar bebidas alcoólicas lentamente, alternando com água, procurar manter a rotina de sono e de exercícios, e fazer atividades ao ar livre. "Se não vai ter controle sobre a comida disponível, faça uma refeição leve antes de sair de casa e vá à festa pelo social."
Se a crise de enxaqueca ocorrer mesmo com as medidas preventivas, Feldman orienta que a pessoa tome apenas a medicação prescrita pelo seu médico e tente reduzir os estímulos ambientais, mesmo durante uma festa, indo para um lugar silencioso, com pouca luz e fechando os olhos. "Se automedicar ou seguir dicas de redes sociais é péssimo, um remédio que funciona para uma pessoa pode ser contraindicado para outra, causando mais problemas em vez de alívio", enfatiza.
Feldman sugere ainda mastigar pedaços de gengibre, menores que um comprimido, como uma alternativa natural aos analgésicos para aliviar as dores provocadas pela enxaqueca. "O gengibre tem propriedades anti-inflamatórias. E a sensação agradável de ardido faz com que o cérebro mande endorfinas, que são analgésicos potentes, melhorando a dor."
Folha de São Paulo

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