quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Autismo precoce e tardio tem perfis genéticos distintos, aponta estudo

 

                                            Acompanhamento para crianças com autismo feito no AME Dr. Milton Aldred, no Grajaú, em São Paulo; - Danilo Verpa - 28.mai.24 /Folhapress

  • Levantamento analisou dados comportamentais ao longo da infância e adolescência

  • Achado reforça que o termo autismo abrange múltiplas condições



O autismo diagnosticado em crianças pequenas tem um perfil genético e de desenvolvimento distinto do autismo que se manifesta mais tarde na infância e adolescência, segundo um estudo internacional publicado na Revista Nature nesta quarta-feira (1º).


Varun Warrier, do departamento de psiquiatria da Universidade de Cambridge, que liderou a pesquisa, afirma que as descobertas desafiam a visão do autismo como uma única condição que era diagnosticada mais cedo em casos mais graves.


"O termo 'autismo' provavelmente descreve múltiplas condições", diz ele. "Pela primeira vez, descobrimos que o autismo diagnosticado mais cedo e mais tarde tem perfis biológicos e de desenvolvimento subjacentes diferentes."


O estudo analisou dados comportamentais ao longo da infância e adolescência, junto com dados genéticos, de 45 mil pessoas com autismo em todo o mundo.


Aqueles diagnosticados na primeira infância até os cinco anos tinham um perfil genético subjacente distinto daqueles diagnosticados a partir dos sete anos até a adolescência, com apenas uma modesta sobreposição.


O perfil genético médio do autismo que se manifestou em crianças mais velhas estava mais próximo do TDAH (transtorno de déficit de atenção e hiperatividade) e condições de saúde mental como depressão do que do autismo diagnosticado precocemente.


"Nossas descobertas sugerem que o momento do diagnóstico de autismo reflete mais do que apenas diferenças no acesso aos cuidados de saúde ou conscientização, por mais importantes que sejam", diz a coautora de Cambridge, Xinhe Zhang. "No entanto, é importante notar que essas são diferenças médias em um gradiente, então o autismo diagnosticado mais cedo e mais tarde não são termos diagnósticos válidos."

O autismo é um transtorno "substancialmente genético", afirma Warrier, com diferenças no DNA respondendo por uma estimativa de 70 a 90 por cento do risco de desenvolver a condição.


Mas centenas ou milhares de genes diferentes estão envolvidos na condição, seja ela diagnosticada na infância ou na adolescência, e a maioria ainda não foi identificada. Variantes genéticas conhecidas explicam apenas 11% da variação na idade do diagnóstico de autismo, segundo a pesquisa.


Embora o estudo não tenha aplicação direta para diagnosticar ou tratar o autismo, ele tem implicações para a forma como a condição é vista, estudada e apoiada.


"Influências genéticas podem alterar quais características do autismo emergem e quando", afirma Warrier. "Algumas dessas crianças podem ter características que não são percebidas pelos pais ou cuidadores até que causem sofrimento significativo no final da infância ou adolescência. Entender como as características do autismo emergem... Poderia nos ajudar a reconhecer, diagnosticar e apoiar pessoas autistas de todas as idades."


O diagnóstico de autismo tornou-se uma questão política nos Estados Unidos, depois que o presidente Donald Trump e o secretário de saúde do país, Robert F. Kennedy Jr., citaram ligações não comprovadas entre o uso de paracetamol e autismo em um relatório no mês passado. Cientistas condenaram as alegações como falsas e potencialmente prejudiciais, e o órgão regulador do Reino Unido continua a recomendar paracetamol na gravidez.


Uta Frith, professora emérita de desenvolvimento cognitivo no University College London, que não esteve envolvida no estudo, comenta: "É hora de perceber que o 'autismo' se tornou um saco de gatos de diferentes condições. Se há conversa sobre uma 'epidemia de autismo', uma 'causa do autismo' ou um 'tratamento para o autismo', a pergunta imediata deve ser: que tipo de autismo?"


Clive CooksonFinancial Times


Nenhum comentário: