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O grande gancho da série está justamente no paradoxo dessa regra de silêncio estabelecida pela Rainha
Por Ana Cláudia Paixão
A despedida de um ícone de constância na vida de tantas pessoas ao redor do mundo, afinal apenas no trono Elizabeth II passou nada menos do que 70 anos, provocou – sem surpresa – um revival The Crown.
A premiada série da Netflix narra a vida da Rainha britânica ao longo de várias décadas, começando no final da década de 1940 antes de seu pai, o rei George VI, morrer e Elizabeth ascender ao trono em 1952, com apenas 25 anos.
Aprendemos ou relembramos a períodos de conflitos políticos marcantes na vida pessoal e pública não apenas de Elizabeth II, mas de seus parentes e súditos, com adaptações dramáticas que nem sempre são verdade.
Dessa forma, passamos pelos vários primeiros-ministros de seu reinado, como Winston Churchill - durante a era do pós-guerra – até recentemente as interações da Rainha com Margaret Thatcher no meio de uma turbulenta Grã-Bretanha dos anos 1980.
Se o lado político tem capítulos interessantes, que mostram a evolução da inicialmente insegura monarca em uma líder pragmática, quase insensível aos olhos do povo (ela tem dificuldade de interagir carinhosamente com os filhos ou até chorar), é sem surpresa a parte da vida privada que nos entretém mais.
Das crises matrimoniais entre Elizabeth e o Príncipe Philip, aos romances da Princesa Margaret, a tristeza do amor proibido entre Charles e Camilla até a entrada da Princesa Diana na trama, é uma novela que contextualiza a obsessão mundial com uma família para lá de complicada.
Uma mescla de reality show, folhetim, documentário e ficção, The Crown praticamente não se encaixa em um único gênero e é viciante.
Uma dor de cabeça para a Família Real, que opta sempre pelo silêncio para evitar polêmicas, mas que não tem controle nem sobre o interesse das pessoas sobre suas vidas ou ainda menos como podem ser retratados.
O grande gancho da série está justamente no paradoxo dessa regra de silêncio estabelecida pela Rainha. Peter Morgan, o showrunner, usa o que foi publicado em livros ou reportagens para nos transportar para os bastidores, “imaginando” como as cenas se desenrolaram, mas quase todas efetivamente aconteceram.
Seu filme A Rainha (disponível na Amazon Prime Video) rendeu um Oscar para Helen Mirren e reconta um momento crucial de virada no reinado de Elizabeth II, quando na morte de Diana essa atitude de discrição e tentativa de lidar com o luto de forma privada provocou uma crise política que quase acabou com a Monarquia.
Para azar dos Windsors, justamente quando Charles deixou de ser Príncipe para virar Rei, é o período que será relembrado na próxima temporada de The Crown.
Em um momento em que as pessoas não sabem diferenciar ficção de realidade, vai ser bem chato para o novo Rei e a Rainha Consorte lidarem com o fantasma de Diana mais uma vez.
A sorte da Família Real é que a pandemia atrasou as gravações e apesar de ter sido prometido para novembro de 2022, a nova parte da história tem mais a cara de ir ao ar apenas no segundo semestre de 2023 (a confirmar).
Pode ser que Charles tenha tido um ano de reinado quando voltar a lidar com seu passado.
Sorte da Rainha que não terá que conviver com a década que (até então) tinha sido uma das mais dolorosas de sua vida.
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