sexta-feira, 30 de setembro de 2022

Alto-Comando do Exército diz que ‘quem ganhar leva’ a Presidência

 

                                           Reprodução/Centro de Comunicação Social do Exército

ESTADÃO CONTEÚDO

Em reunião no Quartel-General, o Alto-Comando do Exército selou posição de respaldar o resultado das eleições presidenciais. 


Os 16 oficiais-generais do grupo mais influente das Forças Armadas indicaram que a caserna vai seguir o rito de reconhecer o anúncio do vencedor pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE).


 "Quem ganhar leva", enfatizaram os militares. A frase começou a ser disseminada na tropa logo depois do encontro, realizado ao longo da primeira semana de agosto.


A última RACE (Reunião do Alto-Comando do Exército) terminou oficialmente com uma nota lacônica. 


Foram cinco encontros, realizados entre os dias 1 e 5 de agosto. 


Como de praxe, o comunicado informava apenas que foram discutidos assuntos "de interesse da Força". 


O Estadão apurou que, ao passo que a posição dos generais se espalhava pelos quartéis do País, os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica começaram a evitar exposição política e a dar sinais de distanciamento da inédita auditoria das eleições, que vai checar parcialmente a soma dos votos no domingo e monitorar testes de funcionamento das urnas eletrônicas. 


A auditoria foi um pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL).


Na prática, a posição do Alto Comando do Exército pode reduzir o impacto da auditoria das urnas de votação.


Fontes militares com conhecimento do assunto disseram à reportagem que o documento com o resultado dessa auditoria não vai adentrar na seara de atestar ou reprovar a confiança das eleições. 


O texto deve se restringir a reportar o trabalho de fiscalização nas suas duas últimas fases: os testes de integridade das urnas e a checagem amostral do somatório por meio de boletins de votação. Um general enfatizou que o trabalho será "técnico".


Os militares vão monitorar os testes de integridade, que verifica o funcionamento correto dos equipamentos, em 641 urnas, sendo 56 delas com uso de biometria de eleitores. 


Esse modelo é um "projeto-piloto" aceito pelo TSE por pressão dos militares. 


A apuração na Defesa, usando arquivos de dados e cópias de boletins de urna colhidos nas seções, não deve passar de uma amostra com até 400 urnas, em vez da totalização completa.


A pasta pretende concluir o trabalho em quatro horas e enviar por volta de 21 horas a auditoria ao TSE. 


O ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, que assinará sozinho o relatório, informará ao presidente Jair Bolsonaro sobre o conteúdo.


Diante dos indicativos de que Bolsonaro questionará o resultado da Corte, os militares afirmam que o presidente terá de fazê-lo por meios legais e jurídicos de sua campanha.


O general Freire Gomes, comandante do Exército, o almirante Almir Garnier, da Marinha, e o brigadeiro Baptista Junior, da Aeronáutica, não pretendem se pronunciar após a declaração do resultado pelo TSE. 


Assim, os comandantes devem seguir a linha de circunscrever as ações de fiscalização das eleições ao Ministério da Defesa. 


No meio militar, isso é visto como uma forma de blindar as tropas da ativa de ações políticas do governo. 


O ministro da Defesa é o interlocutor político entre o presidente e os comandantes, também cargos de confiança. E quer fugir dos holofotes para baixar a temperatura.

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